¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, junho 21, 2006
 
FATOR 2


Os leitores de best-sellers, estes cidadãos que sempre buscam comprar os livros anunciados como mais vendidos nas revistas e jornais, estão sendo duplamente esbulhados. O primeiro esbulho é o fato de comprarem obras feitas de encomenda para o mercado. O segundo é que os mais vendidos não são assim tão vendidos. A diretora editorial Luciana Villas-Boas traz à tona, em entrevista à Folha de São Paulo, este segredo de polichinelo:

"Quando comecei a trabalhar na Record, em 1995, via que apareciam na imprensa números de venda de nossos livros muito diferentes daqueles que eu conhecia internamente. Fui indagar, e me disseram: 'Você não sabe do fator 2? É usado por toda a indústria editorial'. E isso significava duplicar todos os números para efeito de divulgação. Naquela época, particularmente, os números da indústria editorial eram melancólicos", conta Villas-Boas. "Pedi que isso não fosse mais feito, o que aconteceu".

Ou seja, os paulos coelhos e verissimos da vida certamente vendem muito, mas não tanto quanto dizem. Outros editores entrevistados pelo jornal dizem, pudorosamente, jamais ter ouvido falar - ou apenas ter ouvido falar - da malandragem. É curioso que ainda não tenha ocorrido aos auditores fiscais da Receita Federal confrontar declarações de renda de escritores com as tiragens declaradas. Tampouco ocorreu aos jornalistas questionar essas edições fantásticas e seus autores maravilhosos.