¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 29, 2006
 
RICOS E GENEROSOS VERSUS POBRES E MALANDROS


Neste Brasil em que ser milionário é pecado mortal, as grandes fortunas do mundo são vistas como algo demoníaco. Imagine então ser bilionário. Ocorre que nem todos os bilionários são mesquinhos como os milionários Maluf ou Pitta, que correm a proteger seus milhões em bancos cúmplices no Exterior. Bill Gates, por exemplo, é visto entre nós como um reles vilão, criador de um soft proprietário, que seria imposto ditatorialmente a todos os usuários da Internet. Os jornais brasileiros são avaros em notícias sobre a fundação Bill e Melinda Gates, dirigida pelo próprio e sua mulher. Que acaba de receber um aporte de 24 bilhões de euro do também bilionário Warren Buffet. A notícia, encontrei-a em um editorial do jornal espanhol El País. A fundação Gates dispõe agora de 48 bilhões de euro para ações sociais no mundo todo. A cifra equivale, mais ou menos, ao que os Estados Unidos destinam anualmente aos países subdesenvolvidos. Entre os principais propósitos da fundação estão a redução da pobreza, a luta contra as doenças, particularmente a Aids e a poliomielite, o apoio à planificação familiar no Terceiro Mundo, a defesa do aborto e a oposição à proliferação do armamento nuclear. Claro que alguns desses itens não agradarão à Igreja Católica, que prefere ver milhões de indianos, africanos e latino-americanos chafurdando na miséria mas prolíficos, aidéticos mas sem preservativos. Segundo o jornal sueco Aftonbladet, já há padres chamando Warren Buffet de "Dr. Mengele filantrópico".

Ao contrário do que se poderia esperar destes magnatas do capitalismo, eles se opõem à isenção tributária sobre as heranças e são partidários da meritocracia. As estimativas, diz o jornal espanhol, situam em mais de 250 bilhões de dólares o que cidadãos e instituições privadas doam anualmente nos Estados Unidos sob o conceito genérico de filantropia e obras de caridade.

Aqui no Brasil, um presidente da República, inculto mas malandro, usa dinheiro público para reeleger-se. O programa social do governo extorque do contribuinte 62 reais por mês, em média, para dar esmolas a 21% dos domicílios brasileiros. A três meses das eleições, o Supremo Apedeuta, aumentou no último mês em 1,8 milhão o número de famílias beneficiárias do Bolsa-Família, que melhor seria chamado de Bolsa-Reeleição. Até 2005, o programa contemplava 8,7 milhões de pedintes. Este ano, será estendido à pior praga urbana que empesta as grandes cidades. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, até 15 mil moradores de rua receberão o benefício. Não será de espantar que, nos próximos anos, vejamos multidões optando por morar na rua para receber o Bolsa-Reeleição. "Fazer política para pobre é uma coisa muito prazerosa", disse Lula. Particularmente quando esta política é feita com os sofridos ganhos do contribuinte.

Esta demagogia caudilhesca trará danos letais ao futuro do país. Daqui para frente, qualquer político que tenha em seus planos acabar com esta esmola nociva e humilhante, jamais será eleito. A esmola estatal veio para ficar.