¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, julho 05, 2006
 
EM BUSCA DO ENDEREÇO DOS VENTOS



Era 64. Em Santa Maria da Boca do Monte, cidade universitária gaúcha, nascia um poeta de faca na bota. Em verdade, nascera em São Borja, 17 anos atrás. Mas o estro poético parece ter sido despertado pelo vento norte que açoitava a face do vate nos invernos glaciais da Primeira Quadra. Tanto que sua primeira plaquete de poemas intitulava-se Vento Norte. Vamos a um dos momentos do jovem humanista:


os endereços


que adiantam os enderêços de mulheres,
a jovem fulana, a jovem tal, a jovem sicrana?
que resolvem êsses enderêços de lamentos,
essas pobres letras sem sentido, em um canto escuro de gaveta?


na rua rivadávia, a jovem loura,
na avenida do pato, a moça morena,
no bairro chic, a menina carioca...

que resolvem êsses enderêços aposentados
na minha "gaveta esquerda ou direita"?
como se fôssem dois palácios de aventuras,
quando não existem mais palácios e as aventuras são pedantes.

que resolve eu ter o enderêço do lindon jonshon,
do fidel castro e do kruschev... se êles estão ocupados
com átomos e guerras.

o que eu quero com o enderêço da rainha da Inglaterra
se ela tem 300 mil acres de terra para cuidar...

não me interessa o enderêço do mao tse tung, embora
ele seja poeta; o seu problema é cultivar a china.

não me preocupo com o enderêço de tito, de batista,
de franco ou seja de quem for...

eu sei que o enderêço do trujillo é um túmulo,
mas não queria saber...

eu quero o enderêço dos ventos, das rosas, dos campos,
dos mares, do marco polo; eu quero é enderêço das realizações eternas...

depois me preocuparei com o enderêço das passageiras
ou concretas realizações dos homens...



O jovem vate chamava-se Tarso Genro. É uma lástima que as rosas e os ventos não lhe tenham passado seus endereços.