¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, agosto 30, 2006
 
REMEMBER KRAVCHENKO


Há personagens poucos conhecidos entre nós, e no entanto fundamentais para a compreensão do século passado. Um deles é Victor Andreïevitch Kravchenko. Pergunte a um universitário de nossos dias quem é Kravchenko. Só por milagre ele saberá de quem se trata.

Há uns quatro ou cinco anos, escrevi sobre o homem. Alto funcionário soviético que havia trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista. Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, esposa do dirigente comunistas alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.

A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo.

Estou lendo um belo regalo de um bom amigo, o Diogo Chiuso, L'Affaire Kravchenko, de Nina Berberova, escritora russa que estava em Paris durante o processo. É uma cobertura, dia a dia, dos depoimentos de Kravchenko, de seus opositores e de suas testemunhas. As mentiras dos comunistas franceses de então só encontram paralelo nas mentiras dos petistas de hoje. Edição Actes Sud, 1990. Outro relato excelente tem o mesmo título - L'Affaire Kravchenko - e é assinado por Guillaume Malaurie (Robert Laffont,1982). Quanto ao livro mesmo de Kravchenko, em sua edição francesa - J'ai choisi la liberté - só nalgum sebo parisiense, Éditions Self, 1947. Ouvi falar de uma edição brasileira, mas não tenho certeza de que exista.

Se você lê inglês, pode comprar a versão original - I chose freedom - em http://www.antiqbook.com/boox/srd/21584.shtml. Com paciência, encontra até uma versão para download grátis.