¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, setembro 11, 2006
 
ATÉ QUE ENFIM...



Não resisto a tentação de lhe enviar este e-mail felicitando-o pela resposta ao Ipojuca.

Já há muito me desanimo com o silêncio em relação às fofocas e bazófias de militantes cristãos que atacam cretinamente os descrentes em deuses. Ultimamente, tentando fraudulentamente associar sua religião a um apreço pela liberdade, a fim de aliciar fiéis induzindo-os a julgar uma coisa por outra, possivelmente conscientes da fraqueza de sua realidade ideológica. Da mesma forma os socialistas e marxistas também o fazem ao associarem fatos desejáveis à sua porca ideologia; até mesmo a associam à liberdade, à solidariedade altruísta e, absurdo, à democracia. Ou seja, a lógica e os fatos são desprezados num descaramento apoteótico ideológico.

Os cristãos gostam de dizer que sem a crença o indivíduo se permite tudo. Assim fazem por uma pretensa lógica: p1) deus estabeleceu o certo e o errado e castiga quem erra; p2) ninguém quer ser castigado; concluindo que quem não crê em deus não teme o castigo e por tal se permite tudo. É nisso que se baseiam para tal afirmação, daí afirmam que quem não é temente a deus é perverso. Ou seja, sem o castigo divino estes cristãos tudo se permitiriam, e por tal imaginam que os ateus tudo se permitem. O que me faz concluir que apenas não praticam aquilo que intimamente são, por medo. Assim, quando imaginam que deus tudo perdoa no crente, no bom fiel - vide Cristo, que logo estaria no céu com o bandido crucificado a seu lado - se permitem tudo praticar, seja mentir, deturpar, intrigar, perseguir, torturar, queimar e etc, amparados pela idéia de que sua devoção e fidelidade religiosa ao "deus todo poderoso em sua infinita bondade" os redime de suas canalhices, sobretudo aquelas em nome da fé (o "fim supremo" redime dos meios praticados em seu nome), se não, pelo menos, se no último instante se arrependerem estarão perdoados e habilitados para a "vida eterna" junto do deus e daquele bandido fiel, etc.

A leviandade de associar marxismo ou comunismo ao ateísmo bem demonstra o caráter destes militantes cristãos. Afinal, primeiro, o ateísmo não faz considerações econômicas e nem mesmo se propõe como origem de uma moral, sendo apenas a negação de crenças em deuses mirabolantes, deixando as concepções morais se construírem pelo mero consenso comunitário e através de raciocínios lógicos; diferentes de crentes que se apegam a morais arbitradas e ditadas "sigilosamente" por deuses a seus intermediários ou porta-vozes.

Ou seja, não há uma moral arbitrada para ateus por não haver uma doutrina atéia ou ateísta estabelecida. Posto que ateus não possuem messias ou líderes doutrinadores que se façam a origem do ateísmo. Ateísmo é apenas uma descrença individual em deuses, e nada pode decorrer da ausência de crença, da mesma forma que nada pode decorrer do vazio que não o próprio vazio. Assim, a moralidade de um ateu dependerá de sua anuência a uma moral grupal estabelecida ou de seus julgamentos éticos/lógicos sobre a moral ideal, ou comportamento certo e justo com relação aos demais.

Trata-se de descaramento digno de um petista tal leviana associação de marxismo e ateísmo, já que antes do ateu Marx conceber seu mal (não) explicado "país comunista" um fervoroso cristão católico, Thomas More (sto), já tinha concebido e explicado o funcionamento de sua Utopia comunista, aniquiladora da liberdade, inspirada em Platão, Cristo e doutrina católica; que inspirou Marx a usar-lhe o conceito anuído pelos cristãos para propor seu comunismo, sem cometer o erro de More ao explicar friamente sua estúpida Utopia.

Ora, Marx declarou explicitamente sua anuência para com a LEI DA USURA, católica; se Cristo atribuía virtude e mérito aos numerosos pobres, por serem pobres, Marx atribuiu virtude e mérito aos numerosos proletários por serem trabalhadores braçais. Se a bíblia nos fala do apocalipse, Marx também nos promete um "apocalipse socialista" no final, com uma rebelião que porá abaixo o "reino do mal capitalista" e instituirá o "reino do bem socialista", salvando os virtuosos. Se para Cristo os comerciantes profanavam o templo com sua atividade a ponto de transforma-lo num "covil de ladrões", Marx considerava os burgueses também uns ladrões, que exploravam os trabalhadores, gananciosos cumuladores de "tesouros na Terra"...e por aí vai.

Quando ao método dos comunistas para se livrar de críticos e descontentes - hereges e pagãos do socialismo -, esse não difere do método dos cristãos, com a diferença que os cristãos precediam o extermínio com seções de tortura, sadismo. E se os comunistas foram os que mais mataram comunistas, são os cristãos os que mais mataram cristãos.

Outro fato curioso é que militantes cristãos ora afirmam que Marx era ateu e ora o dizem satanista, praticante de rituais macabros. As contradições não os incomodam, pois que em nome de causa nobre: a ideologia. Efetivamente os militantes cristãos a tudo se permitem em nome do cristianismo, entendem que tal objetivo os redime não só perante deus como principalmente perante seus pares ideológicos.

Parece esquizofrenia quando um militante cristão afirma que ateus apoiaram o comunismo e que alguns padres o combateram. Ora, foram justamente os padres e autoridades católicas os maiores apologistas do comunismo, inclusive acobertando e abrigando bandidos comunistas; nas missas é que os católicos eram sorrateiramente manipulados para a anuência com as idéias comunistas: Dom Helder Câmara, E. Arns, Betto, Boff e tantos outros padres, bispos, cardeais e etc., nunca foram ateus; o papa Paulo VI trocava presentes e mesuras com Brejnev; João Paulo II criticava o comunismo ao mesmo tempo que lhe elogiava os objetivos e até defendia algumas de suas "conquistas sociais" em seus levianos discursos esquerdiotas.

Não é mera coincidência (é estratégia política) que os comunistas entoem o discurso de "perseguidos pelos poderosos por serem a favor dos oprimidos". Esse coitadismo "virtuoso" também foi aprendido na religião. Por vezes penso que Marx e cia entenderam bem o cristianismo.

Cito Nietzsche: "Altera-se algo no valor de uma causa, se alguém por ela deixa sua vida?"

Enfim, ver um militante cristão e um petista discorrendo sobre as virtudes de suas ideologias e maldizendo seus críticos ou hereges, é exatamente a mesma coisa, demasiado semelhantes. São capazes de tudo em nome da "causa redentora" sem nem mesmo corar. Aprenderam bem que "quem não está comigo está contra mim", e então, se representam a virtude todos os demais automaticamente representam o vício; assim liberam-se para qualquer prática. A inquisição, criada especificamente para "julgar" crimes contra a fé, que o diga: torturar e matar em nome da fé está automaticamente remido, bem como mentir, deturpar, falsear, intrigar, etc.

Abraços,

Celso Mouro