¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, setembro 13, 2006
 
MENSAGEM DO CARLEIAL


Caro Janer,

É gratificante ver que um defensor da racionalidade conseguiu espaço em um veículo como o MSM. Infelizmente no Brasil, além de não termos "direita" expressiva, a "direita" que temos é religiosa. É um microcosmo dos EUA onde você pode escolher a irracionalidade econômica (socialista) dos Democratas ou a irracionalidade social (religiosa) dos Republicanos. Os primeiros querem controlar sua carteira, os últimos querem controlar sua vida.

Quando os direitos do homem são mera dádiva divina e deus tudo perdoa, não é de surpreender as barbaridades que se pratica. Como alguém que pratica "o bem" por medo de retribuição divina pode criticar outro que nunca cometeu crime algum sem esta ameaça sobre sua cabeça é algo que me deixa estupefato.

Em relação ao aborto, em minhas discussões sobre o assunto sempre concluí que o essencial é exigir que a outra parte explique seu argumento. Quando confrontado com perguntas como "um feto humano pode ser outra coisa que um ser humano?" há de se exigir que o indagador responda primeiro "o que é um ser humano?".

Um ser humano é um ser racional e independente - é destas características que se derivam todos seus direitos. Um marciano não seria humano, mas se fosse racional e independente matá-lo seria assassinato. Um câncer é humano (geneticamente falando), mas não é nem racional nem independente. Uma vaca é independente, mas não é racional - não possui direitos.

Um feto não tem mecanismos para ser racional até muito tarde em seu desenvolvimento, mais importante porém é que ele só passa a ser independente ao nascer. Até este ponto, sua vida é dependente da mãe. Um recém nascido pode ser criado por qualquer pessoa, um feto só sobrevive através de sua mãe.

Um ser dependente não pode ter direitos - direitos são decorrentes da capacidade de livre decisão (que requer a capacidade de pensamento racional e independência). Os direitos verdadeiros nunca conflitam como conflita o "direito" à vida de um feto com o direito à vida de sua mãe em caso de complicações na gestação - este conflito advém de alocar direitos a um ser dependente.

Em resumo, um feto não tem direitos porque um feto não é um indivíduo. É claro que a fé impede que se veja esta realidade. Quando se acredita que deus é a fonte de toda a ética (e portanto dos direitos), qualquer coisa pode ter direitos, direitos podem conflitar, nada precisa fazer sentido - você simplesmente acredita.

Um abraço e mantenha o bom trabalho,

Pedro Carleial