¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

sexta-feira, setembro 29, 2006
 
NOBEL: MAIS UM EMBUSTE



Na França, Itália e Espanha há muitos bares e restaurantes que se gabam de ter acolhido Ernest Hemingway em suas mesas. Os bares são muitos, me recordo agora de dois: La Closerie de Lilás, em Paris, e o Harry's Bar, em Veneza. Não vou negar que tenha freqüentado tais casas. Mas o título que ostentavam sempre me incomodou. No Arco de Cuchilleros, junto à Plaza Mayor, em Madri, encontrei um restaurante que gostei de cara. Em sua entrada está escrito:

Hemingway jamás estuvo acá

Gostei, mas não tive muita chance de freqüentá-lo. Ocorre que fica ao lado do Sobrino de Botín, considerado o mais antigo restaurante do mundo e que tem em seu cardápio pelo menos dois pratos que valem uma visita a Madri: o cordero lechal e o cochinillo. E quem um dia comeu estas iguarias no Botín, nunca deixa de bater ponto quando passa em Madri. Mesmo que o Hemingway tenha estado lá.

Nunca tive maior apreço pela sua literatura. Gostei de O Velho e o Mar, quando jovem. Suponho que não sentiria o mesmo hoje. Outras obras, como Adeus às Armas, Por Quem os Sinos Dobram, Paris é uma Festa, jamais me tocaram. Nunca me agradou o modo de narrar do autor, particularmente seus diálogos artificiais. Tampouco consegui entender os leitores que viam nele um grande escritor. Em seu livro sobre Paris, publicado postumamente, nunca consegui ver a Paris onde vivi quatro anos.

Quanto ao homem, meu apreço era ainda menor. Voluntário da Cruz Vermelha na Guerra Civil espanhola, Hemingway tomou o partido dos comunistas. Escritor que toma partido do totalitarismo deveria ser banido da espécie humana. Tampouco escreverá obra que convença. Apesar de ter sido chofer de ambulância, Hemingway tomava ares de vieux combattant. Um seu contemporâneo, o francês André Malraux, foi mais longe. Dizia ter sido chefe de esquadrilha da aviação republicana, quando se sabe que jamais combateu na Espanha.

Uma carta de Hemingway, data de 27 de agosto de 1947 e enviada a seu editor Charles Scribner, nos revela melhor o homem. Divulgada pelo jornalista alemão Rainer Schmitz, da revista Focus, o documento revela um vulgar e covarde criminoso de guerra. Na carta, Hemingway afirma ter matado um prisioneiro alemão que ousou desafiá-lo. "Você não vai me matar, porque tem medo e pertence a uma raça de degenerados", teria dito o alemão. "Você está errado, disse, e atirei três vezes, primeiro no estômago e depois na cabeça, fazendo cuspir seus miolos pela boca", diz em sua cara o futuro prêmio Nobel.

Em uma outra carta, escrita três anos depois e dirigia ao professor Arthur Mizener, da Universidade de Cornell, Hemingway descreve outras proezas de guerra. "Fiz alguns cálculos e posso afirmar com precisão ter matado 122 alemães." Um deles, segundo o escritor, foi um jovem de 16 anos, baleado ao tentar fugir de bicicleta.

Bravata ou fato? Se matou 122 alemães, em combate é que não foi. Qualquer das duas hipóteses é pouco recomendável a um escritor que recebeu a láurea maior do Ocidente conferida aos humanistas que a Svenska Akademie reconhece como tais. Mais um embuste se junta à lista de grandes vigaristas laureados com os Nobéis da Paz e da Literatura: Mikahil Cholokhov, Martin Luther King, Pablo Neruda, Ribogerta Menchú, Tenzin Gyatso, Saramago, Arafat, Madre Teresa de Calcutá, Wangari Maathai e Günter Grass.

Seria interessante ver se, nos próximos anos, os restaurantes europeus se orgulharão de contar entre seus comensais um assassino frio, que diz ter matado mais que muito nazista de alto coturno.