¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, setembro 22, 2006
 
UNIVERSIDADE PÚBLICA ASSUME VIGARICE




Em 2003, o Ministério da Educação autorizou o funcionamento em São Paulo da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). Da grade curricular constam Botânica Umbandista, Fundamentos de Psicologia Geral e Umbandista, Biologia Geral e Espiritual. Donde se conclui que deve também existir uma botânica católica, outra judia, outra luterana e assim por diante. As botânicas florescerão com o mesmo viço das profissões de fé. Idem no que diz respeito à psicologia. Quanto à biologia espiritual, é de perguntar-se qual será a natureza do material estudado pelos professores. Seres etéreos, evanescentes, inefáveis?

Em janeiro de 2004, a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, sancionou lei que permite a oferta, na rede de saúde, de "terapias naturais" não reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, como aromaterapia e cromoterapia, fitoterapia (tratamento com plantas), terapia floral, geoterapia (terapia com terra, argila, barro), e até a iridiologia.

Não bastassem tais vigarices serem elevadas ao status de ciência, a Universidade de Brasília criou um curso de Astrologia, promovido pelo Núcleo de Estudos dos Fenômenos Paranormais, que se dedica ainda a outros temas do gênero, como ufologia e conscientologia, seja lá o que isto quer dizer. As lições de astrologia duram quatro meses. Os estudantes, a maioria com diploma universitário, vêm das mais diversas áreas - da psicologia à física. Os 20 alunos da sétima turma começaram os estudos na semana passada.

Que ousados executivos do Além queiram dourar seus ofícios com diploma de nível superior entende-se. Claro que em breve teremos doutores em Teologia Umbandista e - por que não? - faculdades de Teologia do Candomblé. Isso sem falar nos mestres e doutores astrólogos. Mais um pouco, e o senador comunista Artur da Távola verá seu sonho realizado, a regulamentação da profissão de astrólogo.

O que pasma é ver o MEC endossando tais excrescências. Verdade que a coisa começou há muitos séculos. Quando, na Idade Média, surgiram os primeiros cursos universitários de Teologia, as portas estavam abertas para toda e qualquer especulação. Teologia é a ciência do conhecimento de Deus. Isto é, do conhecimento do que não existe. Se os católicos têm uma ciência do que não existe, porque umbandistas e astrólogos não a teriam?