¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, outubro 12, 2006
 
AFRODESCENDENTADA E AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA




Em meus dias de universidade, que já vão longe, reprovei certa vez uma menina negra. Ela protestou furiosa, quase espumando: "Racismo, professor, racismo". Pedi que viesse até minha mesa. Ela relutou, mas acabou vindo. Mostrei-lhe então minha lista de chamada. Eu havia dado zero a treze alunas e todas as demais eram brancas. Se algum racismo havia, era um racismo contra as brancas. Diante das evidências, a negrinha retirou seu cavalinho da chuva.

Fui salvo por uma dúzia de brancas. Imagine o leitor se por acaso a menina negra fosse a única a ser reprovada. Eu teria no mínimo um processo judicial pela frente. Estávamos nos anos 80, quando o racismo negro era ainda incipiente no Brasil. Hoje, está imperando na universidade.

Ocorreu na Universidade de Brasília (UNB). Há pouco, um aluno negro foi reprovado e conseguiu rever sua nota numa campanha política onde até a Central Única dos Trabalhadores (CUT) se mobilizou para ajudá-lo. "Ele acusava um professor de ter dado nota baixa por racismo. Mas outros quatro estudantes foram reprovados no mesmo semestre. Ele era o único negro", relatou Carla Teixeira, professora de Antropologia. Bem entendido, os brancos reprovados não tiveram sindicatos que os defendessem.

O professor perdeu a autonomia de cátedra. Quem decide agora se um aluno deve ou não ser reprovado é a CUT. A UNB está se tornando uma ilha de racismo negro. Quarta-feira passada, o professor Paulo Kramer, do curso de Ciência Política, acusado de racismo, teve de prestar depoimento. Por ter usado a palavra crioulada, em uma discussão sobre ação afirmativa nos Estados Unidos.

Crioulada - ou crioléu - diz o Aurélio, é um bando de crioulos. Mais um pouco e os editores do Aurélio serão processados, por terem registrado tais expressões. Inclusive "bando de crioulos". A ditadura do politicamente correto está pretendendo proibir palavras criadas pelo povo, como o são todas as palavras. De minha parte, já nem falo em negrada. Tenho preferido afrodescendentada.

Mas o politicamente correto na UNB vai mais longe. Kramer andou dizendo que não há desenvolvimento nos países onde não cai neve. Verdade que o rigor climático é um determinante de desenvolvimento, só nos trópicos o homem pode ficar esperando que os frutos caiam dos galhos das árvores. Em países frios, é preciso trabalhar para tirar o alimento da terra. Mas isto tampouco é dogma, como nos provaram os marxistas. Eles conseguiram fazer de países com neve países subdesenvolvidos. Kramer foi acusado de "determinismo climático". Que Kramer esteja enganado, ao não considerar o marxismo como fator de subdesenvolvimento até mesmo em países frios, isto se entende. O que não se entende é a tipificação do novo crime, o determinismo climático.

Pelo que me consta, hoje, nos Estados Unidos, nenhum professor ousa reprovar um aluno negro. Ao que tudo indica, estamos chegando lá.