¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, outubro 10, 2006
 
SUPREMO APEDEUTA COMEÇA A ENTENDER PT



O Supremo Apedeuta, candidato à reeleição pelo PT, disse hoje à noite na zona norte de São Paulo que o país precisa se mobilizar para evitar a vitória de Geraldo Alckmin. Bom sinal. O arrogante Lula de poucos dias atrás, que afirmava que se a oposição quisesse segundo turno teria de esperar 2.010, já está sentindo que arrotou vitória antes do tempo. Ocorre que o país não tem razão alguma para evitar a vitória de Alckmin. Mais razões tem para jogar à famosa lata de lixo da História a quadrilha que tomou posse do governo.

Mas o melhor de seu discurso vem adiante. "Agora temos que ir para a rua organizar, em cada cidade, em cada bairro, colocar as bandeiras dos partidos, e a gente vai junto, para não permitir que o mal maior aconteça neste país". O candidato parece estar começando a chegar à idade da razão. Se a outra única alternativa que hoje resta é o PT, ele já admite que o PT é um mal.

Difícil definir o que é mais doloroso em Lula, se a impropriedade de expressão ou suas contradições. Ontem ainda ele dizia que Alckmin havia se comportado no debate como "um delegado de porta de cadeia". Ora, não existe delegado de porta de cadeia. Delegado está na delegacia. A expressão é usada para advogados. Advogado de porta de cadeia é aquele estagiário à procura de uma primeira causa ou um rábula em busca de uma causa medíocre. A grande imprensa não parece ter notado esta brutal derrapada de prosódia.

Ainda atordoado pelas pancadas que levou de seu opositor e em falta de melhor bandeira, apega-se agora à acusação de que o governo de Alckmin significaria "o retrocesso das privatizações e da subordinação ao mercado e ao FMI".

Vamos por partes. Privatização não é obra do demônio. Ninguém tem saudades dos dias em que a telefonia nacional era reservada ao Estado, quando um telefone era sinal de status e custava de quatro a dez mil dólares. O leitor de mais idade deve lembrar-se de uma prática abominável que era tida como perfeitamente normal, a Bolsa de Telefones. Semanalmente, junto às cotações da bolsa, o Jornal da Tarde, de São Paulo, dava a cotação dos telefones, que variava de bairro a bairro. Telefone era investimento. Quem tinha pistolão junto ao Estado comprava uma centena deles e podia deitar-se de pernas para o ar, alugando ou revendendo os aparelhos. Essa corrupção a céu aberto só teve fim com a privatização da telefonia. Não me parece que o povão, essa pobre gente que vive de salário mínimo ou pouco mais que isso, veja com desagrado a privatização de uma Petrobras, por exemplo. Claro que os apaniguados da Petrobras não gostariam disso, sem falar que a Presidência da República perderia uma importante moeda de troca. Lula, militante de boa estirpe socialista, teme a privatização. Quanto menor o Estado, menos resta para roubar.

"Subordinação ao mercado e ao FMI". Essa é ótima! Temos hoje os juros mais altos do mundo e Lula vê no opositor uma possibilidade de subordinação ao mercado. Pagou ao FMI o que o FMI jamais sonhou cobrar. Que me conste, o único maluco a fazer isso na História foi Nicolai Ceaucescu, às custas da miséria da Romênia.

Bom militante do PT, Lula atribui ódio a quem quer que seja que tece uma crítica: "Poucas vezes vi na vida grosseria, tratamento impiedoso e ódio estampado na cara de adversários como vi no PSDB no debate", disse. Ódio, este é sempre o primeiro argumento que os petistas empunham quando alguém lhes dirige uma crítica. Está sempre na ponta da língua de qualquer petista: "Janer, por que tanto ódio?" Esta objeção, eu a ouço há mais de duas décadas.

O homem parece ter ficado sem norte após o debate de domingo. Qual mosca tonta, já nem sabe para que lado vai. Mas está melhorando. O PT já é um mal. Menor, mas mal. Longa é a jornada de um bruto até o entendimento.