¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, outubro 17, 2006
 
WIKIPEDISTA TOMA VERGONHA



A Wikipedia sempre me pareceu um projeto irresponsável e demagógico.

Projeto irresponsável porque não se pode imaginar uma enciclopédia com verbetes cambiantes. Considerando-se ainda que os verbetes são feitos por qualquer um, sempre que estiver em jogo religião, política ou ideologia, teremos não conceitos mas opiniões. Em geral, opinião de fanáticos e torcedores. Em crônica passada, fiz observações a alguns verbetes, particularmente os que se referiam a vigaristas como Madre Teresa de Calcutá, Rigoberta Menchu, ou Bhagwan Shree Rajneesh, que depois de ter o nome mais sujo que pau de galinheiro, trocou-o para Osho. Leitores me advertiram que, em se tratando de celebridades, eu encontraria os mesmos equívocos mesmo em enciclopédias como a Barsa ou Britannica. Pode ser. Aliás, de fato é. Mas prefiro uma enciclopédia com erros permanentes do que outra com erros cambiantes. Como citar uma obra que muda seu texto conforme o humor de seus autores?

Projeto demagógico porque confere a qualquer um a qualificação de enciclopedista. O que explica a ira provocada por meu artigo. Todo militante da Wikipedia me considerou um inimigo figadal. Descobri algo de religioso nos wikipedistas: defendiam o projeto com o mesmo fanatismo que um cristão ou muçulmano defendem suas fés. Afinal, a Wiki os equiparava a um Voltaire, Rousseau, Diderot, D'Alembert.

Parece que os criadores da enciclopédia estão chegando às mesmas conclusões. Larry Sanger, um dos fundadores da Wikipedia, está lançando um serviço concorrente, mas cujo conteúdo será controlado por especialistas e com menor liberdade de intervenção para os visitantes. Frustrado com a qualidade do conteúdo, explica que quer garantir um conteúdo mais responsável em seu novo projeto, a citizendium.com. Os internautas poderão contribuir com seus textos, mas estes serão submetidos a um comitê de editores especializados e moderadores. Estes especialistas deverão demonstrar "um nível mínimo de qualificações, baseados em medidas do mundo real" como diplomas, explicou.

Já melhorou. Alguma qualificação se pede de quem pretenda construir conhecimento. Surge um outro problema. A consulta à Wikipedia era gratuita e só podia ser gratuita porque seus "enciclopedistas" não eram remunerados. Pesquisadores qualificados aceitarão colaborar sem serem pagos? É o que resta saber.