¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, novembro 23, 2006
 
CAMPEREANDO ENTRE FAVELAS



Gostar da Fronteira Oeste gaúcha é coisa de quem nasceu naqueles pagos. A pampa é um deserto plano, verde e monótono, pontilhado de caponetes de árvores, entre as quais se abriga uma casa. Rodando entre Dom Pedrito e Livramento - em busca de algo decente para comer na Banda Oriental, isto é, em Rivera - deparei-me com algo anômalo na geografia de minha infância. Em determinado trecho, a pampa estava pontilhada por casebres esdrúxulos, sem nenhuma razão de ser. Eram casinhas retangulares, todas iguais, plantadas sobre porções de terra onde o pastiçal tinha sido arrancado. Nenhuma árvore em torno, nenhum jardim, nenhuma roça. Via-se que os casebres estavam ali porque alguém ou algo os havia jogado ali.

Eu estava atravessando um assentamento de sem-terras. Sinal algum de agricultura em torno a eles. Animais, muito menos. Nada de plantas. Indício algum de uma atividade produtiva, por mínima que fosse, naquela região toda. Lá pelas tantas, vi um pequeno milharal. Pacase, meu excelente guia em assuntos da Fronteira Oeste, me advertiu: "Não pensa que são eles que plantam esse milho. Quem fornece a semente e planta é sempre um fazendeiro. O sem-terra recebe uma parte da produção. Depois cada um bota um saco de espigas nas costas e sai a vender de porta em porta em Dom Pedrito".

As casas todas, aparentemente vazias. "Eles nem moram aí. Só aparecem para receber a cesta básica. A maior parte do tempo estão marchando rumo a outras invasões".

O que mais me espantou foi a ausência de árvores. Todo homem do campo, para melhor enfrentar o sol e a intempérie, cerca seu rancho com muita sombra e proteção contra os ventos. As moradias dos tais de sem-terra em verdade não passavam de tetos provisórios fincados em meio a uma favela absurda. Plantar árvores para quê? A revolução não precisa de árvores.

O pior é que quem financia esta organização parasitária e inútil, somos nós, os contribuintes. Que ainda não tomamos vergonha e continuamos financiando uma guerrilha católico-marxista liderada por desocupados imbuídos de ideologias do século XIX.

Melhor ir a Rivera. O Uruguai é pequeno e não admite tais palhaçadas de Terceiro Mundo. Melhor esquecer a favela e degustar uma boa costela de cordeiro, regada com um esplêndido Tannat. Vontade de ficar eternamente no pequeno Uruguai. Naquelas bandas que os espanhóis marcavam nos mapas como "Tierra de Ningún Provecho".

O pior é que se tem de voltar.