¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, novembro 07, 2006
 
RIDÍCULO SE INSTALA EM BRASÍLIA



A internet foi um sopro de liberdade a refrescar o pensamento e a expressão do pensamento. Hoje, todo cidadão que disponha de um computador e esteja conectado à rede pode falar com o mundo e ser ouvido. Os blogs, que começaram como brincadeirinha de adolescentes, invadiram as redações dos grandes jornais. Se até há pouco havia escritor ou similar que se queixava de não ter uma tribuna para perorar o mundo, agora não há de que queixar-se.

Eu, sem ir mais longe, certamente não existiria não fosse a Internet. Nunca me adaptei aos grandes jornais nem os grandes jornais me dariam a liberdade de escrever o que penso. Na Net, me sinto como peixe dentro d'água. Os blogs e homepages hoje são centenas de milhões. Outros tantos milhões de obras literárias circulam sob a forma de ebook e o papel - com todos seus custos de feitura, impressão e distribuição - começa a deixar de ser o suporte preferencial do jornalismo e da literatura. Estamos vivendo em um mundo novo e a ele nos adaptamos em pouco tempo.

Claro que isto não agrada ao pensamento totalitário. Na China e em Cuba, por exemplo, a comunicação via Internet sofre uma série de percalços. O problema é que o internauta, uma vez conectado, viaja para onde bem entender. A única limitação é a do idioma.

Amanhã será votado no Congresso Nacional um projeto de lei que prevê a identificação de usuários da internet,entre outras bobagens. Para início de conversa, os computadores já são identificados através do número de IP. Pretende alguém identificar quem senta frente ao computador? Digamos que eu e meu computador estejamos cadastrados junto ao provedor. Mas se uso outra máquina, como seria feita minha identificação? Mostrando RG a uma webcam? Ou todo usuário estaria proibido de usar qualquer outro computador que não o seu? Li ainda em algum jornal que o projeto prevê a responsabilização do provedor por tudo que rola em seu domínio. Haja costas largas. Se um provedor tem um milhão de assinantes, será o responsável pelo que escreve um milhão de cabeças?

É espantoso que um projeto assim ditatorial surja em um país onde a imprensa tem tido um papel fundamental nas denúncias de corrupção e abuso de poder. Até o entenderíamos se surgisse do PT, que só gostava de liberdade de imprensa quando era oposição. Agora, no poder, os petistas há horas bolam projetos para limitar a liberdade de imprensa. Ocorre que o projeto foi apresentado pelo senador Eduardo Azeredo, do PSDB de Minas. A situação é tão esdrúxula, a ponto de vermos um comunista, o deputado Aldo Rebelo, posicionar-se contra o projeto.

O senador mineiro quer impedir o sol de nascer. Não vai ser fácil.