TRADUTORESMillôr Fernandes é um dos raros intelectuais brasileiros que não se rendeu às ideologias do século passado. Verdade que nunca foi contundente na denúncia ao marxismo. Pelo menos não era marxista, o que já constitui virtude mínima.
Mas...
Leio na
Folha de São Paulo de domingo passado reportagem sobre sua obra. Em dado momento, diz o repórter que Millôr fez centenas de traduções, desde Ibsen a Brecht. Ora, não me consta que Millôr tenha norueguês ou alemão suficientes para traduzir Ibsen ou Brecht. Houve época no Brasil em que grandes títulos, especialmente os escandinavos, eram oferecidos a escritores de renome, para que os traduzissem a partir de traduções do inglês ou francês. Quintana, Raquel de Queiroz e creio que até mesmo Drummond de Andrade caíram neste conto.
Era uma época em que poucas pessoas no Brasil conheciam sueco, norueguês, dinamarquês ou alemão. O recurso tinha algum sentido. Mas não é coisa para que alguém ponha no currículo. Penso que Millôr deveria corrigir o redator, que pecou por excesso de idolatria.