¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, dezembro 20, 2006
 
MENDIGOS DE LUXO



Não bastassem os mendigos que infestam as ruas neste período natalino, uma outra espécie de pedintes, os de luxo, infestam as páginas dos jornais. Cleyde Yaconis, a festejada dama do teatro nacional, está enfrentando dificuldades para manter a peça A Louca de Chaillot em cartaz. E lança seu pedido de esmola através das colunas sociais. Leio na página de Mônica Bergamo que a temporada no Sesc acabou ontem. O plano da atriz era levar o espetáculo para o "circuito nobre", mais central, de São Paulo. Por falta de patrocínio, a produção teve que desistir de apresentar a peça no teatro Sérgio Cardoso em janeiro, como estava previsto. A temporada no Rio, prevista para março, também corre risco.

Cleyde Yáconis calcula que precisaria de patrocínio de cerca de R$ 350 mil para continuar em cartaz e tem procurado os recursos em empresas privadas. Ou seja, vai apelar à famigerada lei de renúncia fiscal. Trocando em miúdos: quer que nós, contribuintes, financiemos seu teatro. Caso a situação não seja resolvida ainda este mês, o elenco, de 17 pessoas, deve se dispersar, com os atores buscando outros trabalhos.

Nestes dias em que a nação se escandaliza com o generoso aumento que deputados e senadores concederam a si mesmo, é curioso observar que nenhum cidadão parece se escandalizar com esta vigarice habitual da gente de teatro e de cinema, sempre praticada em nome da cultura. Pior ainda: depois de serem financiados pelo contribuinte, cobram entrada do contribuinte que já pagou, ainda que à revelia, pelo espetáculo. E o contribuinte, qual boi de canga, paga docilmente o ingresso. Sem tugir nem mugir.

Yáconis aposta alto. Quer esmola de nada menos de seis dígitos ou não presta mais seus nobres serviços à esta nobre - e onerosa - causa que se chama arte.