¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, dezembro 29, 2006
 
MES RÉVEILLONS



Nos últimos 35 anos, a maior parte de meus réveillons - assim como os Natais - os tenho passado em quartos de hotéis. Explico. Natais, já contei porque. Ano Novo é um pouco diferente. Sim, existem as ceias. Caríssimas e sempre coletivas. Restaurantes lotados e todos imbuídos de um mesmo espírito. "Se elegemos viver entre bárbaros - dizia Ambrose Bierce - devemos suportar os bárbaros ruídos de suas bárbaras superstições, mas o imbecil que se senta e espera até a meia-noite para tocar um sino ou disparar um fuzil porque a terra chegou a um ponto determinado de sua órbita, deve ser considerado um inimigo da raça..."
Não, não suporto tais efusões.

Além do mais, não suporto multidões. Certa vez, em um 14 de julho em Paris, tentei aproximar-me do centro dos acontecimentos, na Bastilha. A multidão começou a engrossar e comecei a entrar em pânico. Acabei dando meia volta. Em outros réveillons, outras cidades, também fugi daquelas massas informes. Há uns três anos, não consegui fugir. Estava com minha filha em Paris e ela queria ver os fogos nas Tuilleries. Vamos lá. Não achei graça alguma. O melhor foi ter de voltar a pé na madrugada até o Quartier Latin. Fazia uns 6 ou 8 graus, temperatura ideal para caminhar e havia alguns cafés abertos às margens do Sena. O bom mesmo da festa foi o fim da festa.

Em outro réveillon, estava em Madri, hospedado a poucas centenas de metros da Puerta del Sol, centro das festividades. Um amigo queria arrastar-me até o Ayuntamiento (prefeitura), cujo relógio dá o sinal para comer doze uvas, ritual que propiciaria um bom novo ano. Tentei, não consegui. Ao aproximar-me da Puerta, peguei minha Baixinha pelo pescoço e arrastei-a de volta ao hotel. Onde celebramos a passagem com um bom champanhe, tendo uma visão global de todos os foguetórios do mundo pela televisão. Um dia as gentes descobrirão que, os grandes espetáculos, é melhor vê-los na televisão. Se estamos em meio a eles, só vemos um pedacinho.

Tenho um certo medo aos réveillons, e medo dos mais prosaicos. É o medo ao champanhe. Explico. Réveillon na Europa significa inverno. E sempre viajo com um só casaco. Não ouso sequer chegar perto daquela massa estúpida estourando champanhes na rua. Se mancham meu casaco, no outro dia estou nu. E no dia 1º de janeiro não há lavanderia alguma aberta no planetinha.

Desconheço algo mais incivilizado que tomar champanhe no bico da garrafa. Bierce, se vivesse nossos dias, seria ainda mais amargo.