¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, dezembro 11, 2006
 
O ÚLTIMO DITADOR



No início dos 80, quando o Diário Catarinense era ainda um projeto em Florianópolis, fui convidado para escrever uma crônica para o nº 0. Era uma espécie de teste para a escolha de um cronista para o jornal. Escrevi sobre Fidel Castro. Lá pelas tantas, eu dizia que as esquerdas deveriam rezar pela boa saúde e longa vida de Alfredo Stroessner e Augusto Pinochet. Não que eu tivesse um maior apreço por estes senhores. Mas ocorre que, uma vez mortos, Fidel Castro seria o último tirano do continente.

Minha crônica rolou de tela em tela na redação, para indignação dos jovens que estavam montando o DC. Uma redatora chegou a abordar-me na rua, furiosa: "Cara, tu não podes escrever aquilo. Nós sabemos que é verdade, mas isso não pode ser escrito". Claro que não fui escolhido como cronista. O editor até que simpatizava com meu nome, mas não resistiu à pressão da redação. Antes mesmo de ser admitido, fui demitido... por Fidel.

2006 foi o ano da morte dos dois ditadores. Fidel, se sobreviveu, está mais morto do que vivo e talvez parta também neste ano. Na verdade, nem terá a dúbia honra de ser o último ditador. A América Latina, sempre a reboque da História, criou mais dois filhotes de tirano nos últimos anos, Chávez e Morales. Ao que tudo indica, não será tão cedo que teremos o último ditador neste continente.

Quantos milhões de pessoas uma pessoa precisa matar para morrer em odor de santidade? Talvez o problema de Pinochet seja ter matado tão poucos. Stalin matou 20 milhões e morreu como herói. Mao matou 70 milhões e até hoje é cultuado no Ocidente. Entre nós, é o guia dos sem-terra.

As pessoas que hoje condenam os 17 anos de ditadura e os três mil mortos de Pinochet, será que condenarão amanhã o quase meio de século de ditadura e os 17 mil mortos de Castro?

Há muita gente vibrando com a morte do ditador chileno que, bem ou mal, levou o Chile à condição de país mais próspero do continente. Veremos se vibrarão com a morte já próxima do ditador cubano, que levou sua ilha à miséria.

Veremos em breve.