¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, janeiro 21, 2007
 
ECCE HOMO



Leitores querem saber porque razões meu artigo "Aos leitores ádvenas da Bíblia" foi vetado no Mídia sem Máscara. Bom, eu também gostaria de saber. Na crônica, eu não atacava crença alguma, apenas afirmava que Cristo nasceu em Nazaré e não em Belém. Este era o cerne do artigo. Se por isto foi censurado, o editor está sendo mais ortodoxo que o Vaticano. Pois o nascimento de Cristo em Belém não é dogma. Logo, afirmar que nasceu em Nazaré não é heresia alguma. E mesmo que fosse: por que não poderia eu cometer uma heresia? Afinal não vivemos mais nos tempos da Idade Média, quando os hereges não escapavam da fogueira. Em correspondência datada do dia 05 passado, o editor me assegurou que viria explicar-me pessoalmente porque o artigo não tinha sido publicado. Continuo sentado, esperando.

"Artigos com o perfil deste que vc enviou não serão publicados no MSM durante algum tempo" - escreveu-me o editor. "Assim que possível, informarei o motivo. Adianto apenas que é uma decisão temporária". Ora, adoro escrever artigos com aquele perfil. Se aceitasse a censura daquele, teria de aceitar a dos demais. Por outro lado, alegar decisão temporária também é ridículo. Por que o artigo não poderia sair hoje, mas amanhã quem sabe? Além do mais, o artigo era resposta a uma carta de um leitor, que se protegia sob pseudônimo. Pelo que li de sua carta, é mais um desses crentes analfabetos que da Bíblia nada entendem. Em verdade, além de censurar-me, o editor me negou direito a resposta. Se um articulista não pode responder a um crente analfabeto que o insulta sob pseudônimo, é porque está na hora de cair fora.

No início desta semana, o leitor Eduardo Alex quis saber junto ao MSM porque não mais faço parte do jornal. "Foi com surpresa que acessei o blog do Janer e descobri que ele não faz mais parte da equipe de articulistas desse site. E conforme foi por ele explicado, o motivo seria censura. O que aconteceu? O MSM resolveu deixar aflorar o seu lado fundamentalista cristão e decidiu alijar de seu meio aquele que talvez seria o mais livre articulista? Ora, resolveram agir como aqueles que o sr. Olavo sempre tachou de censores por se negarem publicar certos artigos seus? É necessária uma boa explicação aos leitores desse sítio".

Resposta da editoria: "Primeiro, que o MSM é livre para publicar o que bem entender. Isso não é censura, apenas opção editorial, como pode ser feito em qualquer órgão de mídia. Se a cada vez que deixarmos de publicar artigos de um colunista estivermos exercendo 'censura', então devemos abrir mão do site e entregá-lo aos colunistas, pois estaríamos abrindo mão da administração".

Curioso que esse argumento não foi aceito quando Olavo de Carvalho teve artigos seus vetados no Globo, Zero Hora, Época e Istoé. Estes jornais foram acusados de censura. Pelo jeito, deveriam abrir mão da administração e entregar suas páginas ao Olavo. Continua ainda o editor: "Lamentamos que o sr. acredite piamente na versão do colunista, que está simplesmente procurando autopromoção. Por fim, o Sr. Janer Cristaldo preferiu sair do MSM por opção pessoal. Ninguém o obrigou a isso".

De fato, saí por opção pessoal. Tive uma crônica censurada e não tenho mais idade para ter crônicas censuradas. Ainda mais em dias de Internet. Se censurar aqui, eu publico acolá. Mas ao afirmar que estou procurando autopromoção, o editor já partiu para o ataque pessoal. É muito vil, da parte de quem foi beneficiado durante anos com minhas colaborações, agredir-me às escondidas junto a leitores. Sim, às escondidas, porque se o leitor não me enviasse a resposta da editoria, dela eu não ficaria sabendo. Vileza do editor.

É muito difícil entender porque uma afirmação como a de que Cristo nasceu em Nazaré possa ser passível de censura. Outros leitores acreditam que há outros motivos. Um deles afirma que teria sido a denúncia em meu blog do plágio atroz cometido pelo articulista Carlos Illich Azambuja, em seu artigo "A historiografia comunista: a era dos extremos". Mas a denúncia não foi minha, e sim de Marco Aurélio Antunes. Leitor atento, por ocasião do artigo Marco acabara de ler o autor plagiado, Stéphane Courtois. Azambuja, que se diz historiador, nem ao menos pediu desculpas aos leitores. O MSM recebeu a denúncia do plágio. Não a publicou. Protegeu o plagiário. Da mesma forma, sei que o jornal tem recebido várias cartas de apoio a meu nome. Não publicou nenhuma. Além de censurar-me, está censurando leitores.

Anselmo Heidrich, outro ex-colaborador do MSM, que também foi censurado, tem outra hipótese: "Por isto, aposto, este foi o maior 'pecado do Janer', desdenhar do tal Foro, que para Carvalho foi um chute no seu principal dogma".

Heidrich se refere ao Foro de São Paulo, essa boceta de Pandora da qual sairiam todos os males que destruirão a América Latina. É uma hipótese a ser considerada. A influência decisiva do Foro de São Paulo - bem como a de Gramsci - na luta pela comunização do continente se tornaram dogmas para Olavo de Carvalho e seus discípulos. Ora, eu não acredito nem em Deus, nem no Espírito Santo, nem na Santíssima Trindade, nem na importância conferida a Gramsci ou ao Foro de São Paulo. Pelo jeito, sou cinco vezes ateu.

Estas hipóteses merecem alguma consideração. Pelo menos enquanto Paulo Zamboni não esclarecer o porquê da censura à minha crônica. Sempre me senti um estranho no ninho no MSM. Mas esta estranheza me agradava. Gosto de ser estranho no ninho. Por outro lado, eu conferia diversidade ao jornal. Em meio ao pensamento uniforme da direita religiosa, o leitor encontrava um oásis de livre pensar.

Com minha ausência, o MSM assume aquele tom monocórdio típico dos jornais de esquerda: basta ler um artigo e todos estão lidos. Porque todo mundo pensa igual. A máscara caiu. Os pretensos liberais não passavam de católicos dogmáticos. Já pelo próprio nome, eu entendia o MSM como um jornal que denunciava as mentiras da imprensa. Como passei boa parte de minha vida denunciando essas mentiras, nosso amor foi à primeira vista. Enquanto denunciei as mentiras do comunismo e das esquerdas em geral, leitores e editores do jornal vibraram. Quando passei a denunciar as mentiras do cristianismo, ouvi regougos de mal-estar. Denunciar as mazelas do marxismo é bom, digno e justo. Denunciar as mazelas do cristianismo, anátema seja.

Foi bom enquanto durou. É pena que o namoro tenha chegado ao fim. Se o MSM protege plagiários e censura articulistas honestos, nada posso fazer. De minha parte, sentirei falta do MSM. Particularmente daquelas cartas cheias de ódio de leitores fanáticos. Confesso que adoro quando me insultam. Não que seja masoquista. É que o leitor que insulta, insulta porque não tem argumentos. Adoro ouvir leitores irados, impotentes ante a lógica, esbravejando quais mocinhas histéricas. Sem dúvida alguma, vou sentir falta deles.

Last but not least, em resposta a leitores que acham que tenho um lado divino e outro demoníaco, escrevi: "Eu sou um só. Quem quiser uma parte, tem de levar o todo." Comentário de Olavo de Carvalho nos scraps de sua página no Orkut: "Foi o pretexto mais filosófico que já vi alguém inventar para dar o cu".

Eis o homem!