¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, janeiro 22, 2007
 
FÉ E CÂNCER



Mas será que a tentativa de tirar Deus das pessoas não pode causar mais intolerância e confusão do que realmente um bem?

Isso é difícil de julgar. Eu admito que há um risco de que as minhas investigações possam tornar os problemas sociais atuais piores. Mas há inúmeros sinais que sugerem que os dogmas religiosos estão isentos de um criticismo racional, e isso é tão perigoso que temos de correr os riscos. Todos parecem concordar que devemos tentar eliminar os excessos tóxicos encontrados em todas as religiões. Mas, para isso, precisamos estudar todo o âmbito do assunto, assim como médicos precisam entender como corpos saudáveis funcionam antes que possam atacar doenças efetivamente. Crentes que se recusam a examinar suas crenças (e as explicações para elas) são como pessoas que se recusam a ver um médico quando suspeitam ter câncer por medo do que podem ouvir. Em ambos os casos a pessoa estará melhor buscando a descoberta, já que há três possibilidades: não há nada errado com ela (ou suas crenças), e ela pode parar de se preocupar; há alguma coisa errada, mas pode ser resolvida com uma intervenção oportuna. Ou realmente há alguma coisa fatalmente errada, e não há nada que se possa fazer. No terceiro caso, talvez a ignorância seja uma bênção, mas acho que o medo do conhecimento é, em si, a causa principal de sofrimento.

(Entrevista de Daniel Dennet, da Universidade Tufts ao Estado de São Paulo, 21/01/07. Dennet é autor de Quebrando o Encanto, Editora Globo, recentemente lançado no Brasil)