¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, janeiro 26, 2007
 
MENSAGEM DO ALCEU



Janer,

Lamento não ter podido acompanhar mais de perto essa questão da censura no MSM.

A decisão do MSM é por demais lamentável, mas não é exatamente uma surpresa pelo que já se via dos rumos que seguia. Teu artigo Ecce homo, através do qual me atualizo, espelha em grande parte o que eu mesmo já pensava desse episódio.

Foste informado sobre a censura do MSM: "Adianto apenas que é uma decisão temporária".

Pois bem, a censura temporária visou claramente a te fazer sair. Era o tipo de pressão a que não te submeterias e disso sabiam perfeitamente. A causa subjacente, além de provável uma antipatia por não seres cristão, talvez também envolva a pouco importância dada ao Foro de São Paulo, como o Anselmo aponta.

O que me IMPRESSIONA é que tu és um crítico com claríssimo respeito e, talvez eu pudesse dizer, afeição pelo cristianismo. Até acreditas mesmo que JC tenha existido, o que considero improvável se não impossível. Falas com respeito da tua educação, discorres com conhecimento largo e vasto (constrangedor para alguns, pois quereriam saber mais que tu) da Bíblia, conhecimento que só poderia ter aquele que tivesse nesse livro e no cristianismo uma forte referência e, como entendo ser claro no teu caso, uma memória afetiva marcante. Enfim, é crítico dos erros historicamente comprovados e dos erros do fanatismo, mas nunca me pareceu que fosses menos que respeitoso em relação a Cristo e ao cristianismo. Sob certo sentido, falas muitas vezes como se estivesses contrariado pelo que fizeram em nome do cristianismo, mais do que contra a religião em si. Um crítico afável e afinado com a religião, só surgindo daí o herege na visão do intolerante e do ignorante que te insulta contrariado.

Escreveste:
"Foi bom enquanto durou. É pena que o namoro tenha chegado ao fim."

Mas o namoro chegou ao fim com o MSM ainda virgem? Penso que não. Caiu algo, algo falta, algo se perdeu e o MSM não é mais o mesmo (ou o que aparentava ser) quando demonstra tanto medo de idéias divergentes. A boa moça católica acabou o namoro deixando em seus leitores a desagradável sensação de terem apenas colaborado com um muito bem articulado projeto católico conservador.

Não que me incomode com católicos e conservadores. Ao contrário, divergências à parte, até mesmo aprendi a compreender melhor sua visão de mundo. Mas lamento profundamente que não tenham visto que havia uma lacuna e uma necessidade para um projeto como o MSM parecia querer ser, que necessariamente deveria englobar mais que apenas uma estreita e particular visão. Em vista da hegemonia de discursos de esquerda nos meios de comunicação em geral, que me parece inegável e com que condordas, se lembro bem, caberia, em vista do que o MSM parecia se propor a ser, um mínimo de tolerância com outros que se opõe a esse estado de coisas. Mas cristianismo e tolerância nunca tiveram convivência fácil, se é que algum dia foram sequer remotamente compatíveis.


E fui por ti informado desta pérola inesquecível:
(...) escrevi: "Eu sou um só. Quem quiser uma parte, tem de levar o todo." Comentário de Olavo de Carvalho nos scraps de sua página no Orkut: "Foi o pretexto mais filosófico que já vi alguém inventar para dar o cu".

Diante de tal refinamento, imagino que seja difícil encontrar resposta que não envolva palavrões, mães e ameaças. Mas o que chama atenção é o fato de que o caminho escolhido pelo MSM implica queimar pontes, criar desafetos e não poupar palavras para insultar quem discorde. Isso soa-me como o resultado de rígidas certezas pessoais, de um sentimento de absoluta certeza de se estar certo sempre contra tudo e contra todos. Aquele tipo de certeza que vejo em muitos esquerdistas e militantes de toda espécie, políticos, religiosos e ambientalistas inclusive. Aquele tipo de certeza férrea que se costuma chamar de fanatismo.


O MSM tem ou teve seu valor e tenho para mim que estaria agindo da mesma forma estreita ao considerar todo o trabalho feito como inválido. Mas admito que não tenho mais me sentido atraído pelo tom monocórdio de boa parte dos artigos.

Um grande abraço,

Alceu Dias de Oliveira