¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007
 
ACHO QUE CHEGUEI LÁ!



Em meus dias de Rio Grande do Sul, ouvi falar da história de um cidadão que só ia ao cinema para ver o mesmo filme. Tinha medo de decepcionar-se com filmes novos. Acho que cheguei lá. Se olho para trás, nos últimos cinco anos não consegui sair do triângulo Roma-Paris-Madri. Com algumas escapadelas a Amsterdã, Bruxelas e Barcelona. Amsterdã à parte, são cidades que adoro e onde me sinto em casa. Não deduza o leitor que não gosto de Amsterdã. A cidade é belíssima, um milagre do engenho humano. Mas não me sinto em casa. O holandês, para começar, sabidamente não é uma língua. Por outro lado, não me oriento bem na geografia etílico-gastronônica da cidade. Se as prostitutas nas vitrines e os shows eróticos me embasbacaram em meus dias de jovem, hoje só me produziriam bocejos. Além do mais - falha imperdoável - o país não produz vinhos.

Há horas o México me chama. Me falta ainda conhecer muito do Canadá. Mas na hora de assestar a proa, a Europa sempre vence. Enfim, acho que também cheguei àquela condição do Buñuel: "não visito países que não conheço". É de Buñuel também esta pergunta profunda: "Que vou fazer às três da tarde em Calcutá?". Mas acho que ainda este ano tomo vergonha e vou conhecer a terra dos mariachis. E depois, bem entendido, volto para meu triângulo dileto.

Amiga bastante viajada não recomenda revisitarmos países que um dia nos fascinaram. É arriscado. Verdade que Paris ou Madri até hoje não me decepcionaram. Mas Veneza, por exemplo, tenho medo de voltar. Creio que, com a demanda turística, já não terá o encanto dos dias em que a percorri, perplexo, com minha Baixinha. Nem daquele domingo glorioso em que marquei um encontro com uma namorada macedônia no café Florian. O que mais me marcou naqueles dias, estando perdido à noite na cidade silente, foi ouvir o chiado dos sapatos na calçada, ao perambular pelas ruelas desertas. Outros viajores me confessaram ter sido isto o que mais os encantou em Veneza.

Afirmei acima que o holandês não é língua. O leitor mais atilado deve estar perplexo. Mas, segundo não poucos lingüistas, trata-se em verdade de uma doença da garganta.