¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

terça-feira, março 13, 2007
 
A INSENSIBILIDADE DO BENTO



Isolado no Vaticano e cercado por seus áulicos, Bento XVI parece não entender o mundo que vive. Foi divulgado nesta terça-feira o documento Sacramentum Caritatis, no qual o papa proíbe os divorciados de receberem a comunhão. Ora, nesta nossa época, em que boa parte dos católicos sequer acredita em Deus, Sua Santidade deveria dar-se por feliz que pelo menos assistam à missa. O documento condena ainda o segundo casamento de pessoas já divorciadas: "Trata-se de um problema pastoral espinhoso e complexo, uma verdadeira praga do ambiente social contemporâneo que vai, progressivamente, corroendo os próprios ambientes católicos."

Para começar, para um católico o casamento é uno e indissolúvel. Um católico não pode divorciar-se. Se se divorciou, é porque já não aceita a Igreja, nem seu magistério nem seus sacramentos. Isto é, está fora da comunidade cristã. Por outro lado, pode um papa negar o direito a uma segunda chance a quem fracassou no primeiro casamento? As pessoas que se divorciam nutrem em geral a esperança de encontrar um novo parceiro. E muitas vezes é para isso mesmo que pedem divórcio.

Diz ainda o documento: "O celibato sacerdotal, vivido com maturidade, alegria e dedicação, é uma bênção enorme para a igreja e para a própria sociedade". O que estamos vendo não é nenhum celibato vivido com maturidade e alegria, mas sim sacerdotes torturados pela carne, que exercem sua lubricidade sobre crianças indefesas. Nunca na história uma corporação reuniu tantos profissionais processados por pedofilia e violação. A coisa é de tal monta que igrejas nos Estados Unidos estão decretando falência para eximir-se de pagar indenizações milionárias às vítimas. Benção enorme para a igreja e para a sociedade seria permitir que os sacerdotes extravasem suas libidos com suas próprias mulheres. Ou homens, conforme o gosto. A praga que está corroendo os ambientes católicos não é exatamente o divórcio, mas o apreço dos sacerdotes por menininhos.

Comentei outro dia pesquisa realizada na França, segundo a qual somente um francês entre dois ainda se declara católico. E só um católico entre dois ainda acredita em Deus. A insensibilidade do papa à época em que vive é abissal. Não espanta que a Igreja de Roma esteja perdendo terreno ante a progressão dos evangélicos e seitas menores.