¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, março 09, 2007
 
SÓ BUSH RESOLVE



Os padres católicos brasileiros conseguiram vender à imprensa um conceito muito safado, a de "povos da rua". Ou moradores da rua. Vendido o conceito, vende-se também a idéia de que morar na rua é um direito de todo cidadão. Certa vez, tive de dar um chute num mendigo que se escarrapachou justo em frente ao portão de meu prédio. Instruído por alguma assistente social, ele reagiu furioso:

- Que é isso? A Constituição não garante o direito de ir e vir?
- Garante. O que a Constituição não garante é o direito de deitar.

Confuso, ele pegou seus mulambos e foi deitar em algum outro lugar, onde colasse sua conversa de direitos constitucionais.

Uma das coisas que mais fere o paulistano é ver mendigos deitados e até mesmo barracos instalados nas ruas, sem que autoridade alguma faça algo para removê-los. Queixar-se à polícia é inútil. Aos serviços da Prefeitura, idem. E se alguma autoridade isolada resolve tomar uma atitude e remover estes cidadãos que se julgam proprietários das ruas, logo surge o padre Júlio Lancellotti para protestar contra os desmandos do poder.

Se fosse apenas o padre Lancellotti, seria inteligível. Os setores mais vivos da Igreja Católica desde há muito descobriram que mendigos deitados nas ruas são uma poderosa fonte de captação de dólares e euros de entidades católicas da Europa. O pior é ver um jornal como a Folha de São Paulo denunciar aos berros qualquer tentativa de resolver este problema urbano. Se é construído um prédio sem marquises, a Folha logo denuncia a "arquitetura antimendigos". Se a Prefeitura põe nas praças bancos com braços que impossibilitem que mendigos neles deitem, a Folha denuncia os "bancos antimendigos".

Só Bush consegue resolver o problema. Com sua chegada a São Paulo, foram finalmente removidas duas sem-teto que moravam há quinze anos numa rua próxima ao Hotel Hilton. O que nenhum morador do bairro conseguiu, o poderoso líder do império, com sua mera proximidade, resolveu. Bush parece funcionar como uma espécie de superego do Terceiro Mundo. A miséria humana que nós, pobres mortais, temos de suportar com o nariz tapado, não pode sequer ficar ao alcance dos olhos do presidente americano. Até mesmo carroças de papeleiros e de cachorro-quente foram eliminadas do entorno do grande chefe.

Se assim for, que Bush permaneça para sempre entre nós.