¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, março 08, 2007
 
TRISTE VER UMA BRASILEIRA...



Se há algo que me agrada no Ocidente, é ver mulheres que trabalham e são donas do próprio nariz. Quando as vejo, seja em seus ambientes de trabalho, seja em bares ou restaurantes, conduzindo a própria vida, elegendo seus afetos, discutindo e defendendo suas opiniões, me sinto bem. Vivo em país onde a mulher não é confinada ao lar, mas participa ombro a ombro da vida nacional. O convívio com este tipo de mulher sempre me apraz e não consigo relacionar-me com mulheres que não fazem nada na vida.

É muito bom também vê-las exibindo rostos, seios, pernas, barriguinha, comportamento corriqueiro no Ocidente, mas que em boa parte do planetinha constitui crime. Em qualquer praia do país, piscina ou academia, as mulheres estão quase despidas, constituem uma festa para os olhos, sem que isto perturbe a vida de ninguém. O mesmo não acontece no reino dos cabeças-de-toalha.

Neste dia internacional da mulher, a imprensa conseguiu encontrar uma para louvar a escravidão. Segundo o noticiário on-line, Ilza Almeida, brasileira convertida ao islamismo que adotou o nome de Yasmin El Talawy, acha que tem muito mais liberdade no Egito do que tinha no Brasil: "Aqui você pode fazer qualquer coisa. Trabalhar é só você querer. Querer e o marido autorizar. Mas se a mulher não precisa trabalhar, já que o marido pode prover tudo, por que ela vai trabalhar?", afirma Ilza.

Os seguidores de Alá que me desculpem, mas uma mulher precisa ser muito vagabunda - em qualquer acepção da palavra - para decidir não trabalhar só porque o marido pode prover tudo. Sem trabalho, a vida perde o sentido. Que as muçulmanas não trabalhem, entende-se. Por uma imposição religiosa, elas não têm direito ao trabalho. Que uma brasileira, que vive em país onde trabalhar não é proibido à mulher, aceite esta condição, está além de todo entendimento.

"Aqui você pode fazer qualquer coisa", diz Yasmin. Yasmin mente. Ela só pode fazer o que o marido e as leis islâmicas permitem. Há países em que não poderá dirigir. Em outros, sequer poderá sair só às ruas. Jamais poderá entrar em um bar. Nunca poderá receber um amigo em sua casa. Mais ainda, não pode ter amigo algum. Suas relações são reduzidas ao universo feminino.

Há alguns meses, a brasileira convertida adotou o véu para esconder os cabelos. "A beleza da mulher foi feita para mostrar para o marido dela e para mais ninguém. Por que o outro vai xeretar? Por que o outro tem de saber o comprimento ou a cor do meu cabelo ou se está tudo em cima? Isso é da conta só do meu marido". Ora, no Ocidente ninguém vai xeretar a cor ou comprimento do cabelo de alguém. Ninguém vai xeretar pelo simples fatos de que os cabelos estão expostos. Escondê-los é que pode despertar alguma curiosidade.

"Você quer maior liberdade do que usar o nikab, estar completamente coberta, apenas com seus olhos aparecendo e ninguém saber quem você é?" É preciso abdicar totalmente à própria individualidade para alguém desejar que seus semelhantes não saibam quem é. Mas o melhor vem agora: "Bom, homem é homem, né? Não pode ver nada e quando vê uma coisinha fica doido. Mas isso é da natureza do homem, lamento dizer isso. Você vai fazer o quê? Matar o cara?", pergunta-se Yasmin.

Em verdade, está repetindo as sandices proferidas pelo principal líder muçulmano da Austrália, o xeque Taj ad-Din al-Hilaly, que afirmou no sermão de Ramadã passado: "se você põe carne sem cobrir na rua, ou no jardim, ou no parque, ou no pátio, e os gatos vêm e comem, de quem é a culpa, dos gatos ou da carne descoberta? O problema é a carne descoberta. Se a mulher tivesse ficado em seu quarto, em sua casa, com seu hiyab, não haveria problema".

Que estranha natureza será essa, a do macho árabe, que quando vê uma "coisinha" fica doido? Que quando vê carne sem cobrir tem de comê-la? Cá no Ocidente, as mulheres mostram peitos, pernas, cinturas e ninguém anda violando ninguém nas ruas. Violações existem, é verdade, como existem em qualquer lugar do mundo. Mas não dependem desta ou daquela indumentária feminina. Os maiores responsáveis pelos estupros na Europa, hoje, são justamente estes senhores que ficam doidos com qualquer coisinha.

No fundo, o medo à mulher. Ginecofobia, como costumo afirmar. Mesmo entre bárbaros, encontramos momentos de dignidade. Aicha Bin't Talha - neta de Abu Bakr, companheiro de Maomé - e sobrinha de Aicha, uma das mulheres do profeta, recusava-se a usar véu. Dizia que Alá, em sua misericórdia, a criara bela e que ela desejava mostrar sua obra. É triste ver uma brasileira, nascida em país onde as mulheres são donas de seu nariz, ser cúmplice da barbárie muçulmana.