¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, abril 17, 2007
 
MAOMÉ E A VOZ DO POÇO



Desde o momento em que se sentiu seguro e seu nome tornou-se célebre na Arábia, Coreïs, um árabe poderoso e temeroso de que um homem saído do nada tivesse a audácia de abusar do povo, se declarou seu inimigo e lhe pôs todo tipo de obstáculos. Mas, por fim, a família de Coreïs se encontrava em inferioridade de condições, e Maomé foi seguido por uma multidão de povos que, julgando-o um homem divino, adotaram sua nova lei. Uma vez liberado de um inimigo tão temível, só tinha temor de seu companheiro. Com medo de que este descobrisse suas imposturas, decidiu tomar suas precauções, e para fazê-lo com maior segurança o entreteve com belas promessas e lhe jurou que não tinha a intenção de tornar-se poderoso senão para fazê-lo participar de um bem para o qual tanto havia contribuído. "Estamos chegando - lhe disse - ao feliz momento de nossa consolidação. Somos seguidos por um grande povo, ao qual conquistamos, mas temos de confirmar esta conquista por meio do artifício que você tão felizmente inventou".

Ao mesmo tempo o convenceu que se ocultasse no poço dos oráculos, de cujo fundo geralmente simulava a voz de Deus. Enganado pelas doces palavras deste impostor, o pobre homem simulou o oráculo como costumava fazê-lo, e quando escutou a voz de Maomé e o rumor da multidão que o seguia, começou a gritar como havia sido combinado: "Eu, que sou vosso Deus, declaro que designei Maomé para ser o profeta de todas as nações. Dele vocês aprenderão a verdadeira lei, porque os judeus e os cristãos mudaram as que lhes havia dado".

Desde há muito tempo esse homem fazia esse papel, mas finalmente foi pago da maneira mais ingrata, pois Maomé, ao escutar a voz que o proclamava um homem divino, se dirigiu àquele povo enganado por seu falso mérito e ordenou, em nome de Deus, que o reconhecia como seu profeta, que enchessem de pedras o poço do qual havia saído em seu favor um testemunho tão autêntico, em memória da pedra que certa vez erigiu Jacó em uma ocasião semelhante, como sinal de que Deus a ele havia aparecido.

Tal foi o funesto fim deste miserável, que tanto havia contribuído à exaltação de Maomé; foi sobre esse monte de pedras que o último dos mais célebres impostores estabeleceu sua lei. Esse fundamento é tão sólido que depois de mais de mil anos de império ainda não se vê que esteja por debilitar-se.

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(Do Tratado de los tres impostores - Moisés, Jesús Cristo, Mahoma, anônimo clandestino do século XVIII)