¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, abril 19, 2007
 
NADA MELHOR QUE UM BOM MASSACRE



"Vocês tiveram bilhões de chances e formas de evitar hoje. Mas vocês me acuaram e só me deram uma opção. Vocês decidiram derramar o meu sangue; vocês me encurralaram e me deram só uma opção. A decisão foi sua; agora vocês têm nas suas mãos sangue que nunca mais será lavado".

O discurso de Cho Seung-hui, o estudante sul-coreano que matou 32 pessoas na Virginia, não passaria de arrazoados de um doente mental, não fosse uma sinistra coincidência: é mais ou menos o discurso corrente das esquerdas do Ocidente para justificar a violência. A culpa nunca é do criminoso. Mas de "vocês". Isto é, da sociedade. Ou melhor, é nossa. Nós, que nunca matamos, somos quem apertamos o gatilho das armas que o coitadinho encurralado empunha. A diferença no caso é que normalmente são os defensores dos tais de Direitos Humanos que assim fazem a defesa dos criminosos. Cho Seung-hui se antecipou. Antes que psicólogos, sociólogos e outros ólogos assumam os holofotes da mídia para defendê-lo, ele mesmo fez sua defesa. Deixou os ólogos sem argumentos.

O obscuro e desengonçado coreano queria ser ouvido. Desde há muito, a mídia lhe mostrava o caminho. Nada melhor que um bom massacre para sair do anonimato e fazer a capa de todos os jornais do mundo. Duas ou três horas de intenso labor et voilà: celebridade internacional. Teve uma bela performance. Num país em que este tipo de assassinato é corriqueiro, conseguiu bater de longe o número de vítimas de seus precursores. Como a competitividade é uma das regras do jogo social nos Estados Unidos, mais dia menos dia um outro campeão tentará roubar-lhe o recorde.

A culpa será, é claro, da sociedade.