¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, maio 15, 2007
 
BENTO SUPRE LACUNA



Lula andava silente e há horas não dizia bobagens. (Ainda não li sua coletiva de hoje). Bento XVI parece ter vindo para suprir a lacuna. Ao manifestar seu repúdio por ideologias, afirmou que nem o marxismo nem o capitalismo podem hoje dar respostas à demanda de justiça social. Está tentando misturar azeite e água. Marxismo é uma ideologia. Capitalismo é uma atividade econômica. Marxismo é uma doutrina utópica, que visa construir, manu militari, uma sociedade utópica.

Capitalismo não é doutrina. Se os autores marxistas formulam a idéia de uma sociedade ideal para depois tentar instaurá-la, os estudiosos do capitalismo se debruçam sobre uma economia já existente, para tentar melhor entendê-la. Capitalismo é um sistema que surgiu espontaneamente na História e desde seu surgimento só tem contribuído para a prosperidade das nações. Marxismo é um projeto tirânico surgido na cabeça de um utópico alemão, que só tem servido para oprimir e empobrecer as nações.

Que mais não seja, se ambos os sistemas não dão resposta alguma à demanda de justiça social, onde irá o cristão buscar tal resposta? No silêncio das catedrais? O Vaticano tem alguma terceira via a sugerir? Existe uma terceira via? O que tem surgido por aí, batizado com este nome, não passa de uma variante do capitalismo.

Ou quem sabe o Vaticano considera ideal aquele regime em que existe a crença em um só Deus, mais precisamente no Deus da Igreja Católica Apostólica Romana? Acontece que crenças não alimentam sociedade alguma. O Vaticano não produz alimentos nem tecnologia. Nem mesmo braços para o trabalho. O Vaticano só produz blábláblá.

A impressão que Sua Santidade passou é que quis ser politicamente correto, ao não condenar apenas o marxismo. Por uma questão de simetria, sentiu-se constrangido a lançar seus anátemas ao regime que sustenta a própria casa onde habita. Nenhuma economia socialista conseguiria bancar o fausto do Vaticano. Em país socialista, não existe Vaticano. O Vaticano só existe graças à liberdade de expressão e de cultos que só o capitalismo permite.