¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, maio 30, 2007
 
GRAVATAS NUNCA MAIS



O rabino Henry Sobel, presidente licenciado da Congregação Israelita Paulista (CIP), que aos 63 anos houve por bem começar carreira como ladrão de gravatas, em vez de recolher-se ao silêncio, prefere implorar perdão publicamente: "Me senti profundamente humilhado e profundamente indigno daquilo que fui e que sou", disse Sobel ontem ao Jornal da Globo, sobre a noite de 23 de março, que passou em uma cela do condado de West Palm Beach, na Flórida. Conheço estas reações. Conheci pessoas que, tendo cometido um crime, saem a pedir perdão desesperadamente, ao primeiro interlocutor que encontram. Quando este interlocutor não tem motivo algum para perdoá-las, afinal não foi vítima de seus crimes. Pessoalmente, não tenho razão alguma para perdoar o rabino. As gravatas não eram de minha loja.

Da maneira como fala, Sobel deixa a impressão que alguém que não ele o humilhou. Se se sentiu humilhado, podia ao menos dizer quem o humilhou. A polícia de Flórida é que não foi. Quem humilhou Sobel foi Sobel. O rabino acabou pechinchando uma sentença através de seus advogados e não cumprirá prisão por seu delito. Terá de cumprir apenas cem horas de serviços comunitários no Brasil. Tomado de uma providencial amnésia, diz que não lembra detalhes do crime: "só lembro do que aconteceu depois. Acredito no que os médicos dizem. Foi uma overdose, uma dose exagerada de remédios. E isto mexeu com minha química cerebral e mudei o meu comportamento".

O curioso é que só percebeu a mudança química após a imprensa brasileira ter noticiado sua prisão. Antes não havia percebido mudança alguma. Não fosse a imprensa, nada saberíamos da mudança cerebral do religioso. "Eu tinha dinheiro para pagar, eu tinha condições de pagar. Eu podia comprar trinta gravatas", diz. Disto todos sabemos.

O bom rabino diz que quer se redimir perante Deus. "Preciso me redimir perante mim mesmo e a sociedade que está me apoiando, preciso me redimir perante Deus. Nunca mais". Perdão, penso, deveria pedir aos proprietários das lojas lesadas e a ninguém mais. Em todo caso, se acha que ofendeu o deus que cultua, por que não vai então bater a cabeça nas pedras do Muro da Lamentação em vez de prosternar-se ao vice-deus cristão?

O rabino anda pedindo perdão em porta errada.