¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, maio 25, 2007
 
O CONCÍLIO DE LATRÃO E O CONGRESSO DE LADRÕES



Um irado leitor me pergunta porque insisto em falar no concílio de Latrão e não comento os recentes escândalos que infestam o panorama político do país, como o caso das corrupções trazidas à tona pela operação Navalha. Um outro quer saber porque não escrevo sobre um congresso constituído por ladrões.

Vamos por partes. Citei o Concílio de Latrão por tratar-se de uma concordata obscena, assinada entre a Igreja Católica e Mussolini, em 1929, pelo qual a Itália reconhecia a soberania da Santa Sé sobre o território do Vaticano. Quanto a Igreja propôs uma outra concordata obscena com o Brasil, que introduzisse o ensino obrigatório da religião nas escolas públicas e isentasse suas paróquias de obrigações trabalhistas, lembrei-me de Latrão. Como poucas pessoas sabem hoje que o Vaticano é uma concessão do ditador fascista Benito Mussolini, é sempre bom lembrar estes fatos. Foi isto que irritou, não só o irado leitor, mas também muitos católicos fanáticos, que inclusive se recusam a acreditar que tal concordata tenha existido. A fé remove tratados.

Quanto aos escândalos nacionais, confesso que me abstenho de escrever. Eles estão na primeira página de todos os jornais, que contam com grandes equipes de repórteres para a cobertura dos fatos. Eu não tenho equipe nenhuma, não tenho o poder investigativo de uma Veja ou Estado de São Paulo. Só me resta comentar as reportagens. Como comentários é o que não falta, procuro trazer aos leitores outro tipo de informação, aqueles episódios mais ou menos esquecidos da História. Um destes é o Concílio de Latrão.

Quanto ao congresso de ladrões... bom, a imprensa nacional tem sido pródiga em denúncias de corrupção. Tão pródiga que se torna difícil acompanhá-las, tantos são os casos de roubalheira e os nomes envolvidos. Haja memória. Qualquer comentário meu seria redundante. Quando se começa uma CPI sobre uma rede de corrupção, uma outra rede é descoberta e rouba o espaço nos jornais das corrupções anteriores. Só o relatório da operação Navalha tem 1 Gb de memória e 52 mil páginas de texto. A trama é tão vasta que até o Supremo Apedeuta já está pondo as barbas de molho. Disse hoje Lula: "Eu aprendi, nesse período todo, que pobre de quem faz o julgamento de uma pessoa por uma matéria. Essas coisas têm que ter um processo, uma investigação, uma chance para aqueles que são acusados de prestarem explicações. Porque senão estaremos banindo do País uma conquista que foi nossa".

O presidente sofisma. Que conquista é essa que "foi nossa"? Se se refere à liberdade de imprensa, não foi "deles" coisa nenhuma. O PT lutava por liberdade de imprensa quando não estava no poder e não tinha acesso à corrupção. Agora tem e acusa a imprensa quando esta denuncia seus desmandos. Quer inclusive controlá-la. Por outro lado, a imprensa não está julgando ninguém. A imprensa está denunciando. Julgar compete ao Judiciário. Mas que julgamento podemos esperar do Judiciário, quando um ministro do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Galotti, orienta um outro seu colega do mesmo STJ, Paulo Medina, como agir para defender-se da acusação de venda de sentenças? Venda esta que está registrada em gravações públicas. A corrupção há muito transbordou do Congresso e hoje inunda as Cortes Supremas. Um Paulo já está afastado do STJ. Falta afastar o outro.

Já que falei no assunto... O trabalho da imprensa nacional na denúncia destes crimes tem sido admirável. A última Veja traz como chamada de capa:

O fio das operações anticorrupção já cortou Zuleido
e agora chega perto do pescoço de Renan Calheiros,
presidente do Senado


A reportagem deixa Renan Calheiros em um beco sem saída. Ou renuncia, ou desmoraliza de vez o já desmoralizado Congresso. Fica no entanto uma pergunta no ar. Sabemos que dois dos mais importantes ministros de Lula foram hóspedes de fim-de-semana de uma lancha de luxo do indigitado Zuleido. Um outro ministro já teve de deixar o cargo, por ter recebido uma propina de 100 mil reais. (Isso sem falar nos ministros que caíram no governo passado de Lula). Se ministros, deputados e senadores são cúmplices da corrupção, 70% das liberações de verba para os ladrões foram autorizadas pelo Executivo. Uma delas por MP do presidente da República.

Que falta para nominar com todas as quatro letras o chefe da máfia?