¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, julho 27, 2007
 
QUEM ELES PENSAM QUE ENGANAM?




João Batista Natali, do Estadão, fez outro dia um levantamento das taxas de embarque nos principais aeroportos internacionais. Em Frankfurt, paga-se R$ 56,26. Em Amsterdã, R$ 36,08. Lisboa, R$ 33,22; Milão, R$ 20,41; Madri, R$ 18,67. Neste país esplêndido, de tráfego aéreo impecável, um passageiro que embarca num vôo internacional em Guarulhos paga uma taxa de R$ 78,00. Na Europa, só perdemos para Londres, R$ 161,32. Em Nova York, o passageiro pagará R$ 54,67, um valor menor que em São Paulo. Mas há um pacote de outras sete taxas, relativas à alfândega e segurança, que totalizam no aeroporto John F. Kennedy no mínimo mais R$ 78,74. Segundo uma associação européia de agências de viagens, em matéria de taxa de embarque propriamente dita, há apenas três países no mundo mais caros que o Brasil: Reino Unido, R$ 161,32, Quênia, R$ 91,00 e ilhas Seychelles, R$ 81,00.

A altíssima taxa paga no Brasil deveria ir para o caixa de custeio do controle do tráfego aéreo. Ocorre que não vai. Fica retida para fazer o famoso superávit primário. Enquanto isto, quem vai hoje a um aeroporto não tem a mínima idéia de quando partirá, para onde partirá e nem mesmo se partirá. Se partir, não sabe se chegará vivo.

Mal se aventou uma solução para o caos aéreo, que nos joga internacionalmente abaixo do rabo de qualquer país africano, falou-se em aumento do preço das passagens. Se a clientela quer segurança, terá de pagar mais caro. Com isto, o governo sinaliza que sem segurança é mais barato. Não bastasse acenar com aumento do preço de passagens, o flamante ministro da Defesa, Nelson Jobim, toma posse do cargo afirmando que as filas serão o preço de mais segurança. “Se o preço da segurança for manter por algum tempo a fila nos aeroportos, ela será mantida. Se o preço da segurança for o desconforto, será mantido o desconforto, porque é uma questão de opção”, disse o ministro.

Foi uma estréia brilhante, para dizer o mínimo. O novel ministro pretende convencer os brasileiros que os aeroportos internacionais todos, da Europa aos Estados Unidos e Canadá, onde as filas são mínimas, constituem uma ameaça à segurança. É mais uma pérola que se enfia no largo colar de pérolas proferidas pelos ministros de Lula. Guido Mantega afirmava que o caos todo se devia à prosperidade do país. O governo considera que segurança só com passagens mais caras. Nelson Jobim considera que sem filas não há segurança.

Essa gente pensa que engana quem? Talvez enganem essa massa amorfa do eleitorado que vota em Lula em troca de esmolas. Mas Brasil não é só esmoleiros. O ministro, com seu pronunciamento, ofende a minoria esclarecida do país.