¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, agosto 25, 2007
 
SERÃO TODOS OS PADRES FALSOS?



Enquanto isto, os EUA vão reabrir 42 casos de abuso sexual envolvendo sacerdotes. É a notícia que chega de Washington, pela EFE. Uma juíza federal dos Estados Unidos determinou ontem o início imediato dos julgamentos de 42 casos de abuso sexual atribuídos a sacerdotes da diocese católica de San Diego (Califórnia). Cinco julgamentos tiveram que ser suspensos em fevereiro, quando a diocese declarou falência um dia antes de o primeiro começar. O problema é o alto valor das indenizações. A Arquidiocese de Los Angeles teve de fazer um acordo de mais de R$ 1 bilhão com 508 vítimas de abuso sexual por sacerdotes.

Que os padres abusem de crianças não se justifica, mas até que se entende. Privados de mulheres por uma determinação obscurantista da Igreja Católica, os padres se saciam com o que está mais à mão e é indefeso. Isto faz parte das fraquezas humanas. O que não faz parte das fraquezas humanas é dar calote. Aí já é vigarice muito bem planejada. Dar calote é o que estão fazendo as dioceses americanas, para eximir-se das gordas indenizações conferidas às vítimas pelos tribunais. São cerca de 150 denúncias de abuso, que datam da década de 1950 e afetam 60 sacerdotes. Os valores exigidos em indenização chegariam a cerca de US$ 200 milhões. A diocese de San Diego é a quinta dos EUA a se declarar em quebra. Os padres americanos, além de obcecados sexuais, estão se revelando vigaristas.

A praga se alastra. Na Itália, novos escândalos sexuais envolveram sete padres em diferentes cidades do país. A Procuradoria está investigando pelo menos seis, nas regiões de Puglia, Lombardia, Piemonte e Ligúria, alguns deles acusados de violência sexual grave e contínua. Em Turim, um ex-menino de rua que chantageava Don Luciano Alloisio, um padre salesiano, declarou aos procuradores que há muitos anos vive da prostituição e de chantagear sacerdotes. "Mantinha relações sexuais com vários padres de Turim e cidades vizinhas e pedia dinheiro para ficar calado", afirmou.

Cauto, Don Luciano pedia recibo. Em sua casa, os procuradores encontraram uma série de bilhetes assinados pelo garoto de programa com as frases "Nunca tive relação sexual com Don Luciano" ou "Eu inventei tudo". O rapaz explicou que assinava os bilhetes como recibo em troca do silêncio.

Há prelados que preferem acusar as vítimas. Na Sicília, o ex-seminarista Marco Marchese foi violentado por Don Bruno Puleo dos 12 aos 18 anos num seminário de Agrigento. O padre dizia que eles tinham uma relação única, que o que faziam não era pecado e que não era necessário confessar. Marchese denunciou o padre ao bispo local, monsenhor Carmelo Ferraro. Vendo que o bispo não fazia nada, acabou abandonando o seminário e criou coragem para denunciar judicialmente Don Puleo. No processo, o padre foi considerado culpado por ter abusado sexualmente não apenas de Marchese, mas também de outras seis crianças, e condenado a dois anos e seis meses de prisão.

A reação da Igreja não se fez esperar. O bispo Ferraro entrou com um processo contra o ex-seminarista - com pedido de ressarcimento de 200 mil euros - pelos danos que a denúncia de violência sexual teria causado à imagem da Igreja de Agrigento. "Denunciar um religioso pedófilo na Itália é muito mais difícil do que nos Estados Unidos, porque o Vaticano está aqui ao lado e a pressão é muito grande", diz Marchese, hoje formado em Psicologia.

Em meio a isso, um caso de rara honestidade entre sacerdotes ocorreu em Monterosso, pequena cidade de 800 habitantes próxima a Pádua, no norte da Itália. Sante Sguotti, pároco de Monterosso, decidiu tirar o peso da consciência e confessou ser pai de um menino de nove meses durante o sermão de uma missa. "O fruto da própria fecundidade é algo que deve trazer alegria", disse o padre, acrescentando que "talvez tenham razão aqueles que dizem que os padres são todos falsos. Eu me sinto falso, porque não é fácil percorrer sozinho a estrada em busca da verdade. Às vezes, é preciso encontrar alguém para caminhar junto".

A maioria dos habitantes de Monterrosso defende o sacerdote e está disposta a perdoá-lo. Assinaturas foram recolhidas em sua defesa e alguns jovens na cidade estão vestindo camisetas com a frase "Don Sante é meu padre".

Serão todos os padres falsos? Quem fez voto de castidade não pode sequer pensar em sexo, quanto mais consumá-lo. Se fazer sexo é pecado para a Igreja, sexo com menores é crime para o Estado. O pecado pode ser perdoado, basta confessá-lo e fazer um sincero ato de contrição. No caso de crime, é um pouco diferente. A Igreja, em sua tolerância com seus ministros pedófilos, não está entendendo que abuso sexual não é apenas pecado, mas também crime.

Ao que tudo indica, sim, os padres são todos falsos. Exceto talvez Don Sante, que não cometeu crime algum e teve a dignidade de confessar seu pecado a seus fiéis.