¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, setembro 28, 2007
 
CALIL DÁ DUAS DICAS



Caríssimo Janer,

Escrevo para congratular-te pelo teu último post no blog, a respeito do restaurante Salommão. Não conhecia, mas já o incluí na lista de restaurantes em São Paulo a visitar.

E antecipaste um pedido meu que estava na minha cabeça há dias: falar sobre lugares agradáveis em São Paulo. Claro que nossos cafés e restaurantes não possuem o mesmo charme milenar de suas contrapartes européias, mas também temos coisa boa por aqui.

A rua Avanhandava, que abriga os famosos Gigetto e Famiglia Mancini, passou por reforma relativamente recente e transformou-se num exuberante boulevard. Vale a visita - se é que já não estiveste por lá.

Deixo também duas dicas que podem te agradar:

Espaço Santa Terra (http://www.minharua.com/esantaterra.html)

Fica em Perdizes e quem passa na rua não o vê, pois ele fica ao fundo de uma entrada estreita, um corredor de lojas. Antes de chegar ao restaurante, passa-se inclusive por uma loja de vinhos - ótima idéia. Lá dentro é fantástico e sua descrição do Salommão remeteu-me ao Santa Terra, pois no fundo há um belo jardim onde as mesas ficam dispostas. Almoça-se ao vento, sob as árvores e sequer nota-se o barulho da rua. Publiquei a sugestão em meu blog e moradores de Perdizes me enviaram e-mail agradecendo a dica, pois nem eles conheciam o lugar.

Villa da Mooca (http://www.villadamooca.com.br/)

Fica no meu bairro - que por sinal adoro -, a Mooca. É uma antiga vila de casas que foi transformada em restaurante (no site pode-se ver as fotos). Cada "casa" foi transformada em uma cozinha diferente, então pode-se provar de tudo, mas o forte mesmo são pizzas à noite. Ao fundo, no bar, há uma constante exposição de carros antigos. O dono, que também viaja bastante, é colecionador de carros.

Emílio Calil


Dois ou três comentários sobre as dicas do Calil:

A Avanhandava ficou realmente aprazível após a reforma do Mancini. É um oásis em um centro bastante deteriorado. O Famiglia Mancini é muito agradável, mas tem dois problemas, as filas e a fartura dos pratos. Sábados e domingos, conforme a hora em que você chega, espera-se uma ou duas horas na fila. Parece que os paulistanos adoram isso. Eu não. Em todo caso, há solução: chegue lá pelas quatro da tarde. Aí já não há filas e você já nem precisa jantar. Segundo problema, a fartura dos pratos. Um prato serve fartamente três pessoas, e mesmo quatro, se os comensais não são de muito comer. Se for ao Mancini, leve reforços. É o restaurante onde costumo levar amigos que chegam de outras cidades.

Quanto ao Gigetto, nas duas últimas vezes que estive lá, saí frustrado. A cozinha está decadente, as carnes estão assadas demais. O cotechino - ou codeguim, como se diz por aqui -, que era um dos bons momentos do restaurante, saiu do cardápio. Há um certo ar de aviso prévio no restaurante. É uma pena, era um dos bons endereços gastronômicos de São Paulo.

Quanto ao Santa Terra e ao Villa da Moca, qualquer dia vou conferir. Mas já vejo dois senões. Primeiro, o buffet do Santa Terra. Não sou muito chegado a buffets. Considero que o melhor da refeição é o vinho e o ambiente de buffets não é muito propício ao lento degustar deste filho do sol e da terra. Os buffets são hoje vistos como um achado contemporâneo. Em verdade, são um retrocesso aos primórdios da restauração, no século XVIII, quando as estalagens ofereciam uma table d'hôte, isto é, uma mesa com as comidas dispostas em cima, onde os hóspedes se serviam à vontade.

O restaurante, como hoje o concebemos, surgiu como uma sofisticação da table d'hôte. Escreve Rebecca L. Spang, em The Invention of the restaurant (já traduzido no Brasil): No restaurante, o cliente, homem ou mulher, desfrutava de um novo tipo de atendimento personalizado, que raramente (ou nunca) teria encontrado antes, de forma que, mesmo quando os restaurantes começaram a servir refeições completas, eles não se assemelhavam em praticamente nada a uma estalagem, taberna ou casa de pasto. Pelo contrário, o restaurante deu novo significado às emoções, expressões e ações individuais e elaborou toda uma nova lógica de sociabilidade e convivência".

Sem falar que gosto muito de ser servido. Mas acho que vale uma visita pelas árvores. Se a carta de vinhos for estimulante, dá pra enfrentar. É curioso: durante uns quatro anos, nadei em uma academia nas proximidades da Turiassu, e nunca notei o Santa Terra.

Em segundo lugar, os eventos do Villa da Moca. Não suporto eventos. O infâme que um dia bolou a idéia de eventos deveria ter seu nome divulgado para eterna execração dos homens de bom gosto. Os eventos perturbam a tranqüilidade que deveria caracterizar as boas casas de Kakfa.

De qualquer forma, a conferir, Calil. Grato.