¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, setembro 27, 2007
 
CHEZ SALOMMÃO



Terei um dia feliz, escrevi em minha última postagem. E o tive.

Quem me acompanha sabe de meu apreço por cafés e restaurantes. Neles vivi boa parte de minha vida. Nos últimos quinze ou vinte anos, tenho viajado fundamentalmente para revisitar meus cafés e restaurantes na Europa. São um dos grandes achados da humanidade. Se você quer reunir amigos e sua casa é pequena ou por demais modesta, você os convida para essas salas de visita sempre abertas e que, conforme o local escolhido, podem ser belíssimas. Você está viajando por países longínquos, não conhece ninguém e quer comer e beber, ver gente e confraternizar? É simples, basta escolher um café. Lá está uma equipe de profissionais, cozinheiros e garçons, esperando-o desde sempre, para recebê-lo como se fosse alguém da família. Desde que o país tenha cafés, é claro, pois os há que não têm. Estes, meus pés jamais pisarão.

Kafka, em algum lugar de sua obra, falava de uma casa onde as pessoas podem entrar sem ser convidadas, ficar quanto tempo quiserem e sair quando bem entenderem. Respeitado os horários de fechamento, estas casas não são coisas do universo kafkeano. Estão aí, ao alcance de nossos passos. Tudo isto para dizer que tive hoje um almoço magnífico em uma dessas casas de Kafka que surgiu em meu bairro, em março passado. É o Salommão, na Angélica, próximo à Paulista.

A instalação é um achado. É um casarão de fins do século XIX, projetado e construído por um marceneiro artesão que chegou a São Paulo em 1890. Na entrada tem um comprido e aprazível misto de jardim e pomar, onde você pode comer ou beber sob as árvores, junto ao ruído cristalino de uma fonte e com passarinhos cantando sobre sua cabeça. As salas, de um pé direito mais que confortável, transpiram antiguidade. Quando entrei lá pela primeira vez, pensei com meus botões: quem concebeu este ambiente é gente que viaja. Só quem viaja é capaz de criar algo assim.

Em outra ocasião, a noite estava fria e sobre cada cadeira havia um cobertor. Aí concluí definitivamente que os proprietários tinham dado várias voltas ao mundo. Brasileiro sedentário não concebe isso. Cobertores nas cadeiras, eu os vi pela primeira vez em Estocolmo. Com um detalhe: era verão.

Almocei lá hoje, dizia. Música de fundo, a belíssima Khaterine Jenkins. Como sempre chego um pouco fora de horas nos bares, acabei ficando sozinho com aquele jardim todo meu, a passarada cantando e la Jenkins embalando minhas leituras. Conversei rapidamente com os proprietários, a Vera, a Telma e o Daniel. De fato, eram pessoas que viajavam. Os cobertores, Telma os vira em Helsinki. Vera os vira no Texas.

Para quem quiser ter uma idéia de onde almocei hoje:
http://www.guiadasemana.com.br/detail.asp?/Salommao_Bar/NOITE/SAO_PAULO/&a=
1&ID=8&cd_place=25295&cd_city=1

E para quem quiser ouvir uma mostragem da diva que embalou meu almoço:

http://www.youtube.com/watch?v=5AaA2QR8tD8

http://www.youtube.com/watch?v=KHh8isGtB6w&NR=1