¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, setembro 23, 2007
 
WAJDA FILMA KATYN




Em abril de 1940, na floresta de Katyn, perto de Smolensk, 22.500 oficiais poloneses foram executados pela NKVD russa, por ordem de Beria - avalizada por Stalin - com uma bala na nuca, e enterrados em vala comum. A carnificina foi descoberta pelas tropas alemãs, por ocasião de sua incursão em território russo, após a ruptura do pacto Stalin-Von Ribbentrop, em 1941. Durante quarenta anos, o massacre de Katyn foi atribuído pela propaganda comunista às tropas alemãs. O Ocidente conhecia muito bem a autoria do massacre, mas se manteve silente para não envenenar suas relações com a União Soviética.

Foi preciso esperar abril de 1990, meio ano após a queda do muro de Berlim, para que o presidente Mikhaïl Gorbatchev reconhecesse a responsabilidade da URSS. Mesmo assim, até hoje a Rússia não aceita esta responsabilidade. Em 2004, após 14 anos de investigações, os tribunais militares russos arquivaram o dossiê de Katyn, alegando que se tratava de um crime comum, e portanto prescrito.

Temos dezenas de filmes sobre os campos de concentração nazistas, sobre as matanças de Hitler. Não tenho lembrança de filme algum sobre os gulags soviéticos ou demais massacres stanilistas. Isso que roteiro é o que não falta. Já está inclusive escrito, é o Arquipélago Gulag, de Soljenítsin. De 1940 para cá, nenhum Spielberg da vida pensou, por exemplo, em narrar o massacre de Katyn.

Esta missão coube ao cineasta polonês Andrzej Wajda, que já nos deu filmes como Cinzas e Diamantes e O Homem de Ferro, et pour cause: seu pai era capitão do Exército polonês e foi assassinado na mesma época pelos soviéticos, na floresta de Miednoïé, crime que foi associado ao massacre de Katyn. É o que leio no Libération. O filme foi exibido em pré-estréia na segunda-feira passada na Ópera de Varsóvia.

Curiosamente, o filme não deixa de trazer embutida uma acusação ao próprio Wajda. Segundo o jornal francês, adivinha-se o jovem Wajda no personagem do jovem resistente que, no final da Guerra, vem a Cracóvia para estudar Belas Artes. Como o pai de Wajda, o pai do jovem resistente foi morto em Katyn. Mas ele recusa-se a renegá-lo em seu currículo, como muitos outros fizeram para evitar aborrecimentos sob a ocupação soviética. O jovem morre.

Na estréia do filme, um espectador perguntou ao cineasta:

- Com Katyn, você deixa entender que se você não tivesse mentido sobre a morte de seu pai, você não teria podido cursar Belas Artes nem o curso de cinema e que a escola polonesa de cinema não teria surgido.

Wajda, que tem 82 anos, se defende:

- Eu confessarei meus próprios pecados diante de um outro auditório e certamente muito em breve. Cada um milita à sua maneira.

Os críticos brasileiros, que acorrem céleres aos Estados Unidos para promover abacaxis americanos, pelo jeito até agora não tomaram conhecimento do filme de Wajda.