¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, outubro 28, 2007
 
COMO MANIPULAR FATOS



João Paulo II foi o papa que mais santos fez em dois mil anos de história da Igreja. Pelos dados que disponho, até o final do século passado, canonizou nada menos que 447 beatos. Todos os outros 263 papas anteriores, somados, fizeram 302 canonizações. De uma leva só, no começo de outubro de 2000, João Paulo II canonizou 120 cristãos martirizados na China entre 1648 e 1930. Além disso, promoveu outras 1052 pessoas à condição de beatas, o penúltimo estágio antes da santidade.

Bento XVI está se revelando sério candidato a desbancar seu predecessor como fabricante de santos em série. De uma tacada só, acaba de beatificar 498 espanhóis mortos durante a guerra civil. A lista dos novos candidatos à canonização compreende dois bispos, 24 padres, 462 religiosos, três seminaristas e sete leigos. Vejamos como a France Presse noticia o fato, pelo menos segundo a transcrição da Folha Online.


PAPA BEATIFICA 498 MÁRTIRES DA GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Cerca de 30.000 pessoas assistiram neste domingo (28) na Praça São Pedro à cerimônia de beatificação de 498 "mártires" das "perseguições religiosas" da Guerra Civil espanhola (1936-1939). Ao término da cerimônia, o papa Bento 16 exortou os espanhóis a trabalharem pela "reconciliação e pela convivência pacífica".

"Com suas palavras e gestos de perdão para com seus perseguidores,(os novos beatos) nos estimulam a trabalhar incansavelmente pela misericórdia, pela reconciliação e pela convivência pacífica", disse o papa ao término do Angelus, pronunciado da janela do Palácio Apostólico no Vaticano.

Bento 16 não presidiu a cerimônia de beatificação celebrada na Praça São Pedro, embora tenha assistido ao rito do Palácio Apostólico de onde dirigiu a mensagem para os cerca de 30.000 peregrinos presentes. A cerimônia, realizada em espanhol, ficou a cargo do cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, representante oficial do papa.

Nas primeiras filas estavam importantes representantes do governo, entre eles o ministro das Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos. As presenças de Moratinos e de um dos autores da Lei de Memória Histórica na cerimônia no Vaticano foram consideradas "um gesto amistoso após fortes atritos" com a Igreja, segundo o jornal espanhol El País, e deverá servir para pôr fim a qualquer polêmica com o governo socialista.

O governo de José Luis Rodríguez Zapatero apresentou uma lei para reabilitar as vítimas do regime do general Francisco Franco.


Que deduzir da notícia assim reproduzida? A frase final deixa claro que os 498 espanhóis foram vítimas das forças de Francisco Franco. O que está longe de ser verdade. Entre 1931, quando a República Espanhola foi proclamada, e 1939, quando a Guerra Civil terminou, cerca de sete mil religiosos católicos foram assassinados... pelos republicanos. Isto é, pelos comunistas. Segundo o historiador Ricardo de la Cierva, em Historia Total de España, "nos quatro meses que precederam a guerra civil houve 160 igrejas incendiadas. Entre os milhares de civis mortos pelos comunistas, anarquistas e socialistas, estão pelo menos 6 mil padres, freiras e monges, além de 12 bispos. Muitos foram queimados vivos e outros foram enterrados ainda com vida".

Bento XVI não está beatificando as vítimas de Francisco Franco. Está beatificando as vítimas dos comunistas espanhóis. Houve manipulação na notícia publicada na Folha Online. Manipulação da France Presse ou da Folha Online?

Conhecendo os bois com que lavro, eu diria que da France Presse não foi.