¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, novembro 30, 2007
 
SOBRE A EXTRAORDINÁRIA CAPACIDADE
DE SÍNTESE DO SUPREMO APEDEUTA




Em visita às favelas da zona sul do Rio de Janeiro, o Supremo Apedeuta foi rápido no sofisma: "Rico quando mora em morro é chique. Pobre na favela é vergonha. Vamos mudar isso."

Ouviu o galo cantar mas não sabe onde. Não é que pobre na favela seja vergonha. Pobreza é vergonha em qualquer parte do mundo. Além disto, as favelas ostentam uma vergonha a mais, a de serem territórios livres para o tráfico. De constituírem verdadeiros Estados dentro do Estado, sobre os quais não mais se exerce a autoridade do governo central. Nem mesmo do governo estadual e muito menos do governo municipal.

Brasileiro que um dia passou pela Costa Amalfitana tem uma estranha sensação de déjà-vu. Cidades como Positano, Amalfi, Ravelo, belíssimas e de alto padrão de vida, têm a mesma estrutura vertical de nossas favelas. Com uma diferença: lá só mora quem é rico. Serão certamente as mais caras cidades da Itália. Não é que rico seja chique quando mora no morro. Ser rico é ser chique. Seja no morro, seja no asfalto.

Em seu português arrevesado, continuou o Apedeuta: "Houve um tempo em que favela era uma coisa poética. Quem não lembra da Saudosa Maloca? Quem não lembra de Barracão de Zinco. Mas, hoje, favela, embora more uma maioria de pessoas honestas e trabalhadores, pelas dificuldades geográficas e pela degradação, a gente percebe que as favelas mais violentas são reprodutoras de mais violência, de jovens que não têm oportunidade".

Não disse água sobre o grande drama das favelas, o das drogas. Não é que a favela fosse poética nos tempos da Saudosa Maloca. Por um lado, o morro não estava tomado pelas drogas. Por outro, no mundo das artes nunca faltou quem gostasse de poetizar a miséria. Quem cantava as virtudes do barracão de zinco nunca morou em um barracão de zinco.

Lula tem uma grande virtude, a capacidade de síntese. Em pequenas frases, consegue sintetizar uma montanha de bobagens. Isso não é para qualquer um.