¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, janeiro 30, 2008
 
VELHO BOLCHEVIQUE
NÃO PERDE OCASIÃO




Leio na revista Istoé entrevista com o professor e historiador João Fragoso, da UFRJ. Como todo velho bolchevique, não perde ocasião de dizer bobagens:

“Nós somos miscigenados, porém existe de fato o racismo contra as pessoas de pele negra. Há o racismo, mas acho que estamos em um nível diferente do dos EUA, onde um senador pode ser eleito no sul tendo como plataforma a repressão violenta contra os negros. No Brasil, um político assim nunca seria eleito”.

Parece que o ilustre historiador desconhece a história do país das últimas décadas. Quando me falam de racismo no Brasil, entre todos os negros bem-sucedidos do país, gosto de citar o gaúcho Alceu Collares. Poderia citar a Benedita da Silva ou o Celso Pitta, políticos negros que, se saíram mais sujos que pau de galinheiro de suas administrações, indubitavelmente foram muito bem-sucedidos na política nacional. Mas prefiro citar o Collares, que sempre teve boa recepção no eleitorado de um Estado majoritariamente branco e com fama de racista.

Nascido de família pobre em Bagé, pequena cidade na fronteira gaúcha com o Uruguai, Collares foi prefeito de Porto Alegre, governador do Rio Grande do Sul e deputado federal por cinco mandatos. Não teve, é verdade, como plataforma a repressão violenta contra os negros. Afinal, nunca houve no Brasil repressão violenta contra negros, como houve nos Estados. Nunca tivemos nada parecido com as leis Jim Crow.

O professor carioca, em sua miopia histórica, demonstra desconhecer o passado recente do país. Ou talvez imagine que o Rio Grande do Sul pertence à República Cisplatina. Quando ouço esses disparates, costumo lembrar que o Estado mais negro do país, a Bahia, jamais elegeu um governador negro.