¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008
 
EVANGÉLICOS E CANALHAS



Enquanto os cabeças-de-toalha tentam censurar a Wikipedia, no Brasil são os fanáticos da Igreja Universal do Reino de Deus que tentam censurar a imprensa nacional. Em dezembro passado, a repórter Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, assinou reportagem intitulada "Universal chega aos 30 anos com império empresarial". Para intimidá-la, a IURD entrou com 47 ações de indenização por danos morais em Juizados Especiais de vários Estados. As ações são impetradas por diversos crentes desses vários Estados, mas o texto é sempre o mesmo.

A intenção é clara, forçar a jornalista a nomear advogados e ter de viajar pelo Brasil todo para defender-se. Em esquema semelhante ao usado contra a Folha, a IURD impetrou mais 41 ações de indenização por danos morais contra dois jornalistas dos jornais Extra, do Rio de Janeiro, e A Tarde, da Bahia, por terem noticiado ato de vandalismo numa igreja católica em Salvador atribuído a adepto da igreja.

Ou seja, a IURD não quer que os jornais informem. Felizmente ainda há juízes sensatos neste insensato país. O juiz Edinaldo Muniz dos Santos, 36, titular da comarca de Epitaciolândia, no Acre, extinguiu processo em que um reclamante, Edson Duarte Silva, pretendia obter indenização da Folha e da repórter Elvira Lobato.
O juiz entende que há um "assédio judicial", ou seja, "uma atuação judicial massificada e difusa da Igreja Universal contra o jornal". Já o juiz Alessandro Leite Pereira, de Bataguaçu (MS), condenou outro reclamante, Carlos Alberto Lima, por litigância de má-fé.

Reproduzo trechos de entrevista da Folha:

FOLHA - Por que o sr. extinguiu imediatamente o processo?
EDINALDO MUNIZ DOS SANTOS - Lendo a reportagem, vi de cara que o requerente, um simples fiel da igreja, era manifestamente ilegítimo, não poderia se aproveitar da matéria para pedir da Folha uma indenização. Legalmente só a própria Igreja Universal poderia, ao menos em tese.
FOLHA - Por que o sr. diz que está havendo um assédio judicial patrocinado pela Igreja Universal?
SANTOS - O Judiciário está sendo usado apenas para impor à parte requerida um prejuízo processual, isto com centenas de deslocamentos para audiências, passagens aéreas, advogados etc. O processo judicial, que é meio de punição e reparação, passa ser a própria punição.
FOLHA - Quais são os riscos quando os juízes, sem compreender a gravidade do caso, mandam citar os réus?
SANTOS - Se o requerido for citado e não comparecer, corre o risco de ser condenado à revelia. Depois, para desfazer isso leva tempo e dinheiro. O caminho da simples importunação judicial não é tão complicado. O "piloto automático" do Juizado Especial pode sim gerar injustiças que para serem desfeitas leva tempo e dinheiro.


Com outros métodos, a igreja do bispo Edir Macedo em nada difere dos cabeças-de-toalha que querem censurar a Wikipedia. A técnica é antiga. Já fui alvo de pelo menos três processos que tentavam intimidar-me. Qualquer jornalista mais combativo tem um histórico de processos em sua vida. Mas a IURD foi maquiavélica. Se o Judiciário aceita esta estratégia safada de processar um jornalista em diversos Estados da União, a vida do profissional se torna um inferno. E o livre exercício da crítica se torna inviável.

Canalhas!