¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, fevereiro 27, 2008
 
FIM DO SOCIALISMO NO BRASIL?



Leio que a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) aprovou ontem a liberação gradual das tarifas dos vôos que saem do Brasil com destino aos 12 países da América do Sul: Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. A medida será publicada no Diário Oficial da União ainda esta semana e entrará em vigor a partir do dia 1º de março de 2008.

Segundo a notícia, a resolução da ANAC vai corrigir uma distorção que existe atualmente entre os valores das passagens cobradas no Brasil e nos demais países sul-americanos que já têm as tarifas liberadas, como Argentina, Chile e Peru.
Por exemplo, hoje uma passagem Buenos Aires - São Paulo na classe econômica pode custar apenas US$ 205 se comprada na Argentina, enquanto a rota oposta (São Paulo - Buenos Aires), adquirida no Brasil, pela mesma companhia, não sai por menos de US$ 405 – um valor 97% maior. Já uma passagem de Santiago para o Rio de Janeiro, adquirida no Chile, hoje sai por US$ 332, enquanto a passagem para o vôo de volta comprada no Brasil, pela mesma companhia, ficaria em US$ 441 – mais 33%. Em períodos de promoções agressivas, essas diferenças já chegaram a mais de 800%, com a passagem adquirida na Argentina sendo oferecida por US$ 29 e no Chile por US$ 49.

Faz quase quarenta anos que viajo. Sempre evitei companhias nacionais. Particularmente a Varig, que detinha o monopólio das linhas aéreas no Brasil. Viajar pela Varig era sinônimo de pagar caro. Se alguma empresa estrangeira oferecia vôos baratos para o Exterior, a Varig se queixava junto aos milicos e no outro dia a empresa estrangeira era vetada de operar no Brasil. Sempre detestei a Varig e saudei sua morte com alegria.

Naqueles dias, muitas vezes fui ao Paraguai ou à Argentina para voar para a Europa. As Linhas Aéreas Paraguaias (LAP), por exemplo, ofereciam vôos pela metade de preço dos oferecidos no Brasil. Como não podiam pegar passageiros em território nacional, tínhamos de ir até Asunción para pegar o vôo. Como o avião saía já lotado de São Paulo, não havia porque aterrissar em Asunción. O avião sobrevoava a cidade e embicava para a Europa.

Mas o monopólio persiste. Brasileiro paga caro para voar só porque vive no Brasil. Ano passado, minha filha voou de Londres a Paris por dez euros. Menos de trinta reais. Hoje, se você quiser ir de São Paulo ao Rio, paga por ida e volta pelo menos 424 reais. Voar, na Europa, hoje está saindo mais barato que viajar de trem. Nem dá para comparar com Brasil, pois há muito o Brasil renunciou ao trem.

Gosto de trens. De trens europeus, bem entendido. Ano passado, pensei ir de trem de Barcelona até Madri. Seriam nove horas de viagem e custava algo em torno a 110 euros. Por 70 euros e hora e meia de viagem, eu chegava de avião em Madri. Ora, por mais que eu gostasse de trem, seria idiota viajar de trem.

A ANAC decidiu também pela criação de um grupo de trabalho para estender a liberação tarifária a todos os vôos internacionais que saem do Brasil. O grupo tem prazo inicial de 90 dias para apresentar uma proposta para a Diretoria.

Estaremos saindo do socialismo e entrando em um saudável regime capitalista, onde a concorrência é livre? Não consigo acreditar.