¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, fevereiro 09, 2008
 
ÚLTIMO ESCÂNDALO DESMASCARA RECÓRTER
CHAPA-BRANCA TUCANOPAPISTA HIDRÓFOBO




Neste país nosso, costumo afirmar, pode-se morrer de tudo, menos de tédio. Mal um escândalo deixa as páginas dos jornais – não porque tenha chegado a um desfecho jurídico, mas por exaustão – um outro toma conta das primeiras páginas. Ninguém ainda foi punido pela roubalheira do mensalão e já temos a affaire dos cartões de crédito corporativos. Puxa-se um pequeno fio e vem um novelão junto. A ministra Matilde Ribeiro usou seu cartão escancaradamente em benefício pessoal? Não era só a ministra. Eram todos os ministros do governo.

Todos os ministros do governo? Bom, não eram apenas todos os ministros do governo. Eram também deputados e senadores. Apenas os ministros, deputados e senadores do governo? Nada disso. Havia também mais de 11.510 servidores de segundo escalão que gozavam das mesmas maracutaias. Ora, direis, então eram apenas os ministros, deputados e senadores do governo e mais 11.510 servidores de segundo escalão? Nada disso. Também os parlamentares de oposição. Mas a lista está longe de terminar. Há também os funcionários dos governos estaduais de oposição, reitores e professores de universidades públicas.

No fundo, uma Nomenklatura que, independentemente de cores partidárias, participava do botim pilhado aos contribuintes. Toda uma casta de marajás com um segundo salário, em geral mais gordo que o primeiro. Sem falar nos que têm um terceiro salário. São os ministros e altas autoridades que participam dos conselhos de estatais. Neste escândalo novinho em folha, a imprensa está esquecendo deste detalhe, a obscena participação de ministros em conselhos de estatais.

Divertida está sendo a reação do ministro da Justiça, Tarso Genro, às denúncias da imprensa. Segundo o velho bolchevique de São Borja, as revelações sobre o uso abusivo de cartões de crédito estatais são devidas a uma operação da imprensa mal-intencionada, para dar assunto a uma oposição silenciada pelos êxitos do lulismo. Trata-se de um “escândalo artificial” – disse o ministro – que só veio à tona devido a uma iniciativa moralizadora do presidente Lula - a criação do Portal da Transparência, de livre acesso no site da Controladoria-Geral da União (CGU). Não fosse este portal, a mídia não teria a seu alcance as informações detalhadas dos pagamentos e saques feitos com os 11 mil cartões emitidos pelo governo.

Quer dizer: se o escândalo veio à tona graças a um portal que o governo criou, então o governo está absolvido. Não precisa sequer ser investigado. Mas o governo não está muito convicto desta convicção de seu ministro da Justiça. Tanto que vai retirar do portal os gastos de Lula – o capo dei tutti capi – e de seus familiares. Ou seja, os asseclas continuam expostos à execração pública. O chefe da quadrilha, sob pretextos de segurança nacional, não tem mais revelados sequer seus gastos com picanha argentina. Em país decente, teríamos um impeachment. Ocorre que estamos no Brasil.

No meio da semana, Dilma Roussef, da Casa Civil, Franklin Martins, ministro de Comunicações, e o general Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional deram uma entrevista coletiva, numa tentativa de blindar o capo dei tutti capi. Em nome da segurança nacional, os dados relativos à Presidência da República serão omitidos. Para o general Félix, a divulgação de determinadas informações pode comprometer a segurança do presidente e de seus familiares.

- Do ponto de vista do GSI, quanto menor a transparência, maior o grau de segurança. Em relação às informações de gastos, tem de ter limite - disse o general -. Estamos reavaliando as informações, e aquelas que trouxerem algum tipo de prejuízo (à segurança) não mais estarão no Portal da Transparência.

O general considera, no entanto, que a restrição não significa falta de transparência do governo. Ou seja, a tropa de choque do planalto sentiu que o rei corria risco de xeque-mate e apressou-se a retirar do portal o que Tarso Genro, o ministro da Justiça, chama de iniciativa moralizadora. Tipo de prejuízo à segurança, na boca do general, é eufemismo para risco ao governo do meliante que garante o bem-estar da quadrilha toda.

Até aí, as ditas oposições - que de oposição só têm o nome, afinal não passam de canalhas do mesmo estofo – estavam vibrando. O PT caíra em sua própria armadilha. Ocorre que, dia seguinte, o governo tucano de São Paulo foi flagrado com gastos de 108,4 milhões de reais nas despesas com cartões, só no ano passado.

Em meio a isto, estou me divertindo muito com as desesperadas tentativas de Reinaldo Azevedo, de justificar as roubalheiras do governo Serra. O governo tucano não teria cartões de crédito. E sim cartões de débito.

“Um cartão de débito supõe, necessariamente, a existência de um dinheiro previamente depositado; o de crédito, não: é uma despesa que se faz, a ser paga com um dinheiro futuro” – escreve em seu blog louvaminheiro o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo. Em suas louvaminhices, pretende que haja alguma diferença entre o dinheiro roubado ao contribuinte, conforme seja dinheiro previamente depositado ou dinheiro futuro. Ora, para quem rouba, tanto faz. Patética, a argumentação do recórter. Dinheiro presente ou futuro sempre é dinheiro.

Adoro estes escândalos. No final, a súcia toda permanece impune. Mas pelo menos caem as máscaras de jornalistas que pretendem denunciar corrupção, como pretende o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo.