¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quarta-feira, março 12, 2008
 
AFONSOCELSISMO ADORMECIDO



Não tem explicação alguma a súbita indignação nacional ante o repatriamento de alguns brasileiros da Espanha. Todos os dias são repatriados imigrantes de todas as nacionalidades em todas as grandes cidades de acesso ao Primeiro Mundo. Leio no colunismo on line que as autoridades inglesas, já em 2005, reservavam 20 assentos, todas as noites, no vôo Varig RG 8753, com destino para São Paulo, para os deportados do dia. Alguma onda de indignação contra o Reino Unido por acaso varreu o território nacional? Não vi nem ouvi nada.

Não é fato desconhecido que milhares de brasileiros desembarcam nos Estados Unidos ou na Europa com vistos de turista e por lá acabam ficando como trabalhadores clandestinos. As autoridades brasileiras, se pretendem defender estes brasileiros, estão defendendo a ilegalidade. Ainda ontem, o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, descartava a possibilidade de um pedido de desculpas do governo espanhol pela repatriação de brasileiros. Segundo ele, tal pedido só faria sentido em caso de alguma arbitrariedade do serviço de imigração o que o embaixador assegurou não ter ocorrido.

Para o embaixador, o controle de imigração é aleatório, mas segue as regras do espaço Schengen. “De cada cem viajantes, um é retido. Esta é a estatística fria e lamentável. A norma tem que ser aplicada no país de entrada e muitos latino-americanos entram na Europa pela Espanha. Então, isso nos dá um destaque que deveria ser comparado com o fluxo global”.

Segundo os jornais, neste ano, 2.231 brasileiros foram repatriados pela União Européia, 797 deles, pela Espanha, aonde chegam diariamente cerca de 800 brasileiros. Por uma razão das mais elementares: a Espanha é uma das portas mais próximas do Velho Continente. Uma vez na Espanha, o candidato a trabalho clandestino pode circular, sem controle de passaporte, pelos 22 países da União Européia – mais Islândia, Noruega e Suíça – que constituem o espaço Schengen. Houve época, inclusive, que não se tirava visto específico para nenhum país europeu, mas para o espaço Schengen. Diariamente, há brasileiros sendo repatriados dos Estados Unidos. Por que então uma retaliação contra a Espanha?

Ao que tudo indica, a notícia de que três universitários foram rechaçados pela Espanha mexeu no afonsocelsismo que dorme na psique tupiniquim. Segundo eles, iam para Lisboa. Alegaram que ir via Madri era mais barato, mas não forneceram detalhe algum sobre preço de passagens. Talvez por falta de assunto, talvez por demagogia barata, o Supremo Apedeuta e seu fiel cão de guarda, o ministro Tarso Genro, ergueram-se indignados contra a insolência espanhola.

Quando manifestarão suas indignações contra os Estados Unidos e demais países europeus, que todos os dias devolvem brasileiros ao Brasil?