¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, abril 05, 2008
 
DESASTRES PAULISTANOS



Vivo há quase duas décadas nesta cidade. Não vi, até hoje, prefeito que prestasse. Cheguei aqui, se bem me lembro, nos dias de Paulo Maluf. Entre os muitos crimes que cometeu contra a cidade, está a horrenda via expressa elevada chamada Costa e Silva, mais conhecida como Minhocão. Em cidade onde houvesse qualquer resquício de cidadania, tal monstrengo há muito teria sido demolido. Antes de Maluf, tivemos a Luísa Erundina, que transformou a cidade numa espécie de bazar árabe. Sem falar que, ao liberar as carrocinhas para coleta de lixo, em pleno século XX, fez São Paulo retornar à era da tração animal.

Houve depois Celso Pitta, o criador desse elefante branco chamado Fura-Fila. Sua gestão foi marcada pela corrupção. Depois surgiu Marta Suplicy, que desorganizou completamente o tráfego urbano, com um novo e idiota desenho da malha viária. Mais tarde, José Serra, esta espécie de zumbi sonâmbulo que jamais disse ao que veio. Mas o campeão em incompetência será certamente o atual prefeito, esse tanso chamado Gilberto Kassab.

Um dia cria um corredor para motos. Duas semanas depois, descobre que o corredor para motos é uma péssima idéia e o desmonta. Meses depois, proíbe o tráfego de caminhões na cidade, inclusive os de mudança. Mudanças só poderiam ser feitas aos sábados e domingos. Uma vez ciente da estupidez desta idéia, libera o tráfego dos caminhões de mudança. E assim governa. Para Kassab, São Paulo é um laboratório para experimentação de projetos absurdos.

Passei hoje em meu boteco. Técnicos da prefeitura mediam as dimensões do toldo. Ora, semana passada, vi toldos sendo serrados nos botecos de meu bairro. Pergunto ao Eugênio, meu garçom dileto, o que estava sendo preparado. Mais uma estupidez: todos os toldos de São Paulo devem ser desmontados. Ora, um toldo é algo que não atrapalha ninguém, além de nos proteger da chuva e do sol. Todas as dezenas de milhares de bares da cidade terão de desmontar seus toldos e substituí-los por um outro, retrátil.

Quanto aos mendigos que tomaram posses das ruas, nenhuma providência. Quanto aos flanelinhas que chantageiam nas esquinas os proprietários de carro, muito menos. O mesmo se diga quanto à segurança das ruas. Os moradores que protejam seus prédios, às custas de milhares de empregados, ou que se submetam à sanha dos assaltantes. Quanto aos viciados em crack que infestam o centro da cidade, o prefeito solenemente os ignora e diz que não existem. Os jornais vão até a Cracolândia e os fotografam, fumando suas pedrinhas à luz do dia. Kassab, olímpico, declara à imprensa que nada disso é verdade.

Em compensação, declara guerra aos toldos de bares. A quem aproveita o crime? A meu ver, só aos fabricantes de toldos retráteis. É espantoso ver como os habitantes de uma cidade dinâmica como São Paulo não ofereça resistência aos delírios de uma boneca deslumbrada por seu poder administrativo.