¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

Powered by Blogger

 Subscribe in a reader

quinta-feira, junho 05, 2008
 
DA VIAGEM



Que dizer? Foi ótima. Como gosto de frio, em geral viajo no inverno europeu. Há anos não viajava na primavera. Temperatura divina, entre 10 e 17 graus. Paris sempre Paris. Com uma novidade nos últimos dois anos: está se parecendo a Amsterdã. Milhares de pessoas usando bicicletas. O atual prefeito instalou um novo sistema de transporte no ano passado, o velib. Há em torno de 750 parkings de bicicletas em toda Paris. Elas ficam grudadas magneticamente a um pequeno poste. Você pode comprar a preço módico um tiquete de um dia, de uma semana ou de um ano. Você chega no ponto de bicicletas, situados em geral a 300 metros um do outro, apanha uma delas e a deixa em qualquer outro ponto. O sistema pegou como coqueluche, o que só pode ocorrer em país onde automóvel não mais significa status. Serve para desengarrafar o trânsito e é benéfico à saúde cardíaca e vascular. País inteligente toma decisões inteligentes. Enquanto isso, São Paulo tem engarrafamentos de mais de 200 quilômetros.

Para quem conhece a Holanda, nada de novo. Desde há muito, os holandeses usam a bicicleta como meio preferencial de transporte. Os canais e pontes da cidade estão repletos de bicicletas. Ao lado da estação central de trens - instalada sobre onze mil estacas de madeira sobre o mar - há um bicicletário imponente, são três ou quatro andares destinados ao parking de bicicletas. Adoro ver aquelas velhotas de setenta ou mais anos, bicicletando como jovenzinhas de vinte.

Descoberta de minha última viagem a Amsterdã: olhando melhor as bicicletas sobre as pontes, vi muitas enferrujadas, de rodas tortas, sem pneus. Ou seja, muitas são dispostas sobre os canais para fazer paisagem.

Barcelona, puro encanto. Subi a Montjuich, permaneci horas tomando vinho e contemplando a cidade e o porto do alto. A Barceloneta, deslumbrante, com seus passeios, praia e marinas. Cheiro intenso de dinheiro por onde quer que se passe. Uma arquitetura modernosa faz contraste com vielas antigas, apartamentos cheios de roupas em varais que vão de um lado a outro da rua. Todo mundo a pé ou de bicicleta. Carros não imperam naquele pedaço.

Madri, sempre bela e excitante. À meia-noite, multidões percorrendo as ruas, todos a pé, rumo a não sei onde. Tampouco o carro impera por lá. Revisitei os botecos onde um dia fui feliz, e todos permanecem como sempre foram. Desde séculos. O Sobrino de Botín, onde degustei cochinillos e lechales, foi fundado em 1725. O Gijón, café que sempre interrompeu minhas tentativas de ir até a Biblioteca Nacional, data de 1888. Adoro essas casas que resistem aos séculos.

E nisto reside meu drama. Na hora de viajar, não consigo desviar destes rumos. Deve fazer mais de dez anos que essas cidades me puxam, imperiosamente. Enfim, mês que vem acho que escapo deste feitiço. Prometi à minha filha o sol da meia-noite. E isto só se encontra mais ao norte.