¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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segunda-feira, junho 16, 2008
 
“HI, I’M FROM BRAZIL!”


Comentei, na semana passada, o deslumbramento de um patriotão, que se dizia muito bem recebido no estrangeiro quando repetia:

“I’m from Brazil!”. “Hi, I’m from Brazil!”. “My name is Fabio, I come from Brazil!”
Nunca repeti tanto isso nos últimos meses. O sorriso do entrevistado se abre, o guarda na fronteira subitamente fica mais gentil. As nuvens desaparecem, o céu fica azul, o sol brilha, os passarinhos cantam... Figurativamente, claro.


Estava na África, bem entendido. Que tentasse então abusar de sua condição de brasileiro na Europa! – escrevi na ocasião. Seria outro o trote da mula.

Vamos aos fatos. Diante da invasão brasileira no Reino Unido, Londres já cogita em exigir visto de brasileiros. Se você hoje tem de varar madrugadas numa fila se quiser ir para os Estados Unidos ou México, em breve talvez sofra o mesmo quem quiser ir para a Inglaterra. Imagine-se então desembarcando em Heathrow e exclamando no controle de fronteiras: “Hi, I’m from Brazil!”. Seria um tanto contraproducente, eu diria.

A Espanha, por sua vez, vai começar a pagar para que brasileiros e outros imigrantes deixem o país. É o que contam os jornais de hoje. A partir do dia 1° de julho, os brasileiros que estejam desempregados na Espanha poderão pedir incentivos financeiros para retornar ao Brasil. No total, a medida tem como objetivo gerar o retorno de um milhão de imigrantes a seus países de origem, como forma de reduzir a tensão na busca por trabalho no país.

Somos tão benquistos na Espanha que a Espanha nos paga para voltarmos ao Brasil. E atenção: serão pagos os imigrantes que lá estão legalmente. Imagine então o tratamento reservado para os ilegais. Esta solução já foi utilizada na França, nos anos 70, por Giscard d’Estaing. Quem quisesse voltar a seu país, tinha passagem de volta e mais dez mil francos no bolso. Muitos voltaram, particularmente os portugueses. Com dez mil francos, na época, dava para instalar uma padaria na esquina e continuar tocando a vida. Mas Portugal sempre foi um país para onde se pode voltar.

Voltar para país árabe é mais complicado. Slimane Zeghidour, um bom amigo argelino, me confidenciava: “Podem me dar a França inteira. Não volto. Não posso levá-la no bolso”. Foi sensato, o Slimane. Em minha penúltima viagem, encontrei numa livraria parisiense um volumoso ensaio (446 páginas) de sua autoria, intitulado La Vie quotidienne à la Mecque – de Mahomet à nos jours (Hachette, 1989). Livro em tom de reportagem histórica, está despido de qualquer proselitismo. Dificilmente o teria publicado em seu país natal.

Mas volto aos patriotões tupiniquins. Enquanto o governo se jacta de PIBs magníficos, de uma economia em plena expansão, a Europa toma medidas para mandar de volta a seus PIBs magníficos os oriundos da famosa economia em plena expansão. “Deus passou por aqui e parece que resolveu ficar” – andou dizendo o Supremo Apedeuta.

Os brasileiros, mais pragmáticos, parecem preferir ficar na Europa.