¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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quinta-feira, junho 19, 2008
 
OS NOVOS ÁRABES



Existia na Suécia uma canção que dizia: Jag är så glad för jag är svensk. Traduzindo: sou tão feliz, porque eu sou sueco. Afonsocelsimo nórdico, é verdade. Mas, bem ou mal, um Svenson tem boas razões para ser feliz. Jamais encontraremos um sueco migrando para outros países para lavar pratos ou limpar quartos de hotel.

Ao ler o noticiário sobre as novas determinações na Europa sobre os imigrantes, me vem à mente, como disco rachado, o deslumbramento daquele conterrâneo nosso que se sentia feliz por ser brasileiro... na África: “I’m from Brazil!”. “Hi, I’m from Brazil!”.

A Comunidade Européia está tomando uma decisão que há muito deveria ter tomado. A partir de 2010, imigrantes considerados ilegais nos países da União Européia poderão permanecer presos, em centros especiais de detenção, por até um ano e meio, sem julgamento, até que sejam deportados. O Parlamento Europeu aprovou ontem a chamada Diretiva de Retorno, que determina regras comuns para lidar com imigrantes irregulares -que não têm permissão legal para entrada, permanência ou residência em países da UE.

As medidas da CE estão chocando o Brasil e demais países do Terceiro Mundo. Pelo jeito, estes países consideram que ilegalidade... é perfeitamente legal. De certa forma, europeu é o que não falta para defender esta ilegalidade. Na França, Itália, Alemanha, Dinamarca e Suécia sempre há quem tome as dores dos sem-papéis. Em Paris, a Igreja Católica sempre abrigou em suas igrejas os imigrantes ilegais. Assim sendo, até hoje soa como heresia, para uma certa esquerda européia, definir como crime a ilegalidade.

Com a nova diretiva – leio nos jornais –, todos os imigrantes ilegais no bloco passarão por procedimentos comuns. Uma vez identificados, receberão por escrito a decisão administrativa ou judicial para sua deportação. Terão prazo entre 7 e 30 dias para saírem voluntariamente. Após esse período, as autoridades emitirão ordem de remoção. Se considerarem que há risco de fuga, o imigrante pode ser preso mesmo sem autorização judicial. A lei prevê inclusive a deportação de crianças desacompanhadas.

A Associação Européia de Defesa dos Direitos Humanos já chiou e considerou inaceitável a possibilidade de detenção de homens, mulheres e crianças por até 18 meses simplesmente por terem permanência irregular. A entidade criticou severamente vários pontos da lei, como a detenção de crianças sob o pretexto de manter a unidade familiar e a deportação para países de trânsito, onde os imigrantes podem, inclusive, ser detidos como ilegais. Nada de novo sob o sol: tanto na Europa como aqui, os tais de defensores dos ditos direitos humanos sempre tomam o partido da ilegalidade.

Uma má notícia para o patriotão tupiniquim em vilegiatura pela África: segundo a Folha de São Paulo, o endurecimento das normas contra imigração ilegal na Europa pode atingir especialmente os brasileiros. Atualmente, os nascidos no país estão em quarto lugar na tentativa de entrar ilegalmente na UE, atrás de iraquianos, chineses e turcos. Só no ano passado, 9.410 brasileiros foram rechaçados nos aeroportos europeus. O Reino Unido foi o país que mais recusou admissão de brasileiros, seguido de Espanha, Portugal e França. Segundo noticiário da Globo News, 200 mil brasileiros podem ser mandados de volta da Europa. E a imprensa nacional se escandaliza quando alguns gatos pingados são devolvidos da Espanha.

Ainda ontem, a imprensa espanhola noticiava que, numa investigação chamada de "operação carioca", a polícia daquele país prendeu uma quadrilha de 16 brasileiros acusados de falsificar documentos europeus. O grupo atuava nas cidades de Madri e La Coruña, e já tinha lucrado em torno de 250 mil euros (cerca de R$ 625 mil) em cinco meses vendendo RGs e passaportes falsos a outros brasileiros. Com esta operação policial já são 12 as quadrilhas brasileiras de falsificadores desbaratadas na Espanha nos últimos 12 meses. Um balanço de 138 presos em 13 cidades. “Oh, eu sou tão feliz porque sou brasileiro!”

Um fenômeno novo está acontecendo na Europa. Devido a esta marginália que migra ilegalmente – e que ainda forma quadrilhas para favorecer a migração ilegal – o brasileiro está passando a ocupar o lugar dos árabes na antipatia dos europeus. Não era assim nos anos 70, em plena ditadura. Agora é assim, no governo do “nunca antes na história”. Enquanto o Supremo Apedeuta cacareja as glórias de seu mandato, a brasileirada vai delinqüir na Europa.

Fomos promovidos ao papel de novos árabes do velho continente.