¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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domingo, junho 08, 2008
 
SOBRE PREÇOS E SAUDADES



A bem da verdade, se você for comer em restaurantes famosos de Madri, como o Sobrino de Botín ou na cave do El Oriente, você vai despender, vinho incluído, 70 ou 80 euros. Algo entre 190 e 220 reais. Para duas pessoas, bem entendido. O que é relativamente barato se comparado com o Brasil. Você come pratos sofisticados em restaurantes centenários e paga menos da metade do que pagaria no Fasano ou Massimo, só para falar de São Paulo. O determinante final do preço é o vinho. Você pode pedir um bom Rioja por 20 ou 30 euros, ou um não-sei-lá-o-quê de 1450 euros. Ou seja, mais caro que uma passagem de ida-e-volta São Paulo/Paris. Eu, é claro, sempre opto pelos Riojas.

Mas pode-se comer muito bem sem ser nestes restaurantes seculares. Por exemplo, os Museos del Jamón, os únicos museus que freqüento na Espanha. São grandes cafés, onde se come tapas e sanduíches variados, com o teto e as paredes forradas de presunto. Há alguns anos, li uma notícia sobre um cidadão que morrera soterrado por presuntos. Só pode ser na Espanha, pensei. Era.

Desta vez, parei na calle Victoria, perto da Puerta del Sol, ao lado do talvez mais charmoso Museo del Jamón de Madri. De manhã cedo, minha companheira rumava ao Prado, Reina Sofia ou ao Thyssen-Bornemisza. Eu cochilava um pouco mais e rumava ao Museo del Jamón. Em geral, estes cafés têm também restaurante, com um menu que muda todos os dias. Consta de dois pratos. Como primeiro, um farta porção de paella, ou de massas, ou presunto com melão, ou um gaspacho, ou algo por el estilo. O segundo prato é geralmente de carnes, boi, cordeiro, ave ou peixes. Consta do menu uma sobremesa e mais uma botellita de bom vinho, engarrafada especialmente para o Museo.

Preço? Dez euros. Ou seja, uns 27 reais. Encontrei-o também na Casa Gades, em Chuecas, que era gerida por Antonio Gades, o bailaor de flamenco. Mas não só lá. Estes menus de meio-dia são bastante comuns em Madri. Agora, leitor, me conta: onde se consegue comer decentemente no Brasil, com vinho e sobremesa, por 27 reais?

Na volta a São Paulo, almocei com minha companheira em um restaurante muito agradável, que gostei muito de freqüentar. Digo gostei, assim no passado, porque não penso voltar lá. Caipirinhas a 14 reais, vinhos a partir dos sessenta. Comemos um prato trivial e pagamos... 170 reais.

Em Paris, freqüentei restaurantes não exatamente baratos para um brasileiro, mas perfeitamente palatáveis para um europeu. Aux Charpentiers, Procope, Julien. De qualquer forma, acho que nunca paguei mais de 80 euros por duas pessoas, vinho incluído. Mas também comi e bebi muito bem em restaurantes cujo menu estava por volta dos mesmos dez euros de Madri, como o simpático Tire-bouchon, na Mouffetard. Ou La Petite Perigourdine, ao lado de meu hotel na rue des Écoles, onde se paga apenas dez euros por uma generosa tranche de foie gras. Algo em torno de 200 gramas. Aqui em São Paulo, no shopping de minha rua, 100 gramas custam... 172 reais.

Mal cheguei e já sinto saudades de minhas cidades diletas. Se você quiser comer bem e barato, atravesse o Atlântico. Antes que seja tarde.