¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, setembro 19, 2008
 
JUSTIÇA ELEITORAL CENSURA RELIGIÃO



Longe de mim defender o PT ou petistas. Ou defender religiões. Ou condenar comportamentos sexuais. Quem me acompanha sabe muito bem que considero o PT uma espécie de quadrilha organizada em torno de antigos ideais marxistas. Que considero toda religião vigarice. E que defendo o direito de qualquer pessoa optar pelo tipo de sexualidade que preferir.

Mas a Justiça Eleitoral de São Paulo andou exagerando ao multar uma rádio religiosa da capital por veiculação de propaganda contrária à candidata à prefeitura Marta Suplicy (PT). A rádio Musical, que ainda pode recorrer da decisão ao Tribunal Regional Eleitoral (TER), terá que pagar uma multa de R$21,2 mil. De acordo com a decisão, a emissora veiculou uma enquete dentro da sua grade de programação com a pergunta "Você fica com a Bíblia ou com o que diz a dona Marta?", ressaltando que a candidata defende posições contrárias à doutrina religiosa. Para a Justiça Eleitoral, "há propaganda negativa em que se aconselha aos fiéis a não votarem na candidata que defende os interesses dos homossexuais".

Estes histéricos pastores, que histericamente condenam o homossexualismo, em verdade temem sentir prazer com uma carícia na nuca. Só pode ser isso. Que tem a ver uma pessoa com as opções sexuais alheias? A cultural ocidental, que tem suas origens naquela Grécia onde homossexualismo era prática normal, há muito desistiu de condenar as relações entre pessoas do mesmo sexo. Estas relações só são puníveis, hoje, em culturas de bárbaros, como a muçulmana. Mesmo os religiosos que as condenam sabem muito bem que, se é pecado, não é crime.

De fato, os textos bíblicos condenam as relações sexuais entre homens. “Não te deitarás com varão, como se fosse mulher; é abominação”, diz o Levítico. E continua: “Nem te deitarás com animal algum, contaminando-te com ele; nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele; é confusão”. Judeu não gosta de confusão. Talvez isto explique porque denunciaram Cristo aos romanos. Ou é homem, ou é Deus. Homem e ao mesmo tempo Deus, isto não cabe na cabeça de um judeu. Verdade que uma porta fica aberta. Não há, em momento algum do Livro, interdição a que uma mulher deite com uma mulher. Os pastores parecem estar cientes disto, pois até hoje não vi nenhum brandir a Bíblia contra as lésbicas.

Que religiosos desrecomendem candidatos cuja filosofia aceita comportamentos que eles, religiosos, consideram condenáveis, me parece absolutamente normal. Condenável seria pretender que a humanidade toda siga suas idiossincrasias. Condenável seria se exigissem que um candidato condenasse o homossexualismo. Não é o caso. Recomendam não votar na petista porque ela não só aceita, como também promove tal comportamento.

A Justiça Eleitoral, ao multar a rádio Musical, está impondo censura a um grupo religioso. Ora, num país em que as religiões neopentecostais não passam de ostensivos caça-níqueis que operam impunemente no espaço televisivo, é espantoso que juízes eleitorais se preocupem com a postura ética de uma emissora.

Chegamos a um momento em que não gostar de negros constitui racismo. Agora, pelo jeito, não gostar de homossexuais também constitui crime.