¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sexta-feira, outubro 24, 2008
 
SOBRE MONGES MISÓGINOS,
MILIONÁRIOS E CORRUPTOS



Existe na Grécia uma montanha jamais pisada por mulher, desde que foi consagrada à Virgem, há mais de mil anos. É o monte Athos, a Montanha Sagrada. Em grego, Aghion Oros. Não só mulheres estão proibidas de pisar o solo sagrado, como toda e qualquer fêmea, seja cabra, ovelha ou galinha. No cais do porto pelo qual se chega à montanha, monges com olhos treinados vigiam para que nenhuma mulher vestida de homem profane o monte Athos.

Em sua autobiografia, Testamento para El Greco, Nikos Kazantzakis conta sua visita a esta montanha só pisada por machos. O amigo que acompanhava Kazantzakis quis saber como os monges distinguiam as mulheres dos homens.
- Pelo cheiro – respondeu um jovem monge. E pediu ao rapaz que se dirigisse a um monge mais velho, que já fora sentinela no cais.
- As mulheres tem outro cheiro, Santo Padre? Que cheiro têm?
- Como gambás, fedorentas – respondeu o ancião.

Espécie de Vaticano greco-ortodoxo, este Estado misógino, com 371 km2, está situado na mais oriental das três penínsulas da Tessalônica, ao norte da Grécia e abriga cerca de 1500 monges ortodoxos, distribuídos em vinte mosteiros principais. Mesmo pertencendo ao território grego, constitui uma entidade teocrática independente. Para entrar no monte Athos, é preciso uma permissão especial, apesar de a Grécia fazer parte da União Européia e ter abolido os controles de fronteira. O encrave é rico em tesouros artísticos, como antigos manuscritos, ícones e afrescos. Desde suas origens, a Montanha Santa hospedou místicos e mestres espirituais cujos escritos foram recolhidos no século XVIII numa antologia - a Filocalia - que influenciou profundamente o mundo ortodoxo.

Os monges seguem uma vida de desapego aos bens materiais. Desapego, mas não muito, ao que tudo indica. Segundo o Courrier International, um sagrado escândalo sacode a Grécia. Até o momento intocável, o monastério de Vatopediou, um dos vinte da montanha santa, está sendo denunciado por transações imobiliárias duvidosas realizadas com o Estado. A affaire diz respeito a duas construções da vila olímpica, erguidas para os jogos de 2004, cedidas ao monastério pelo governo por uma soma simbólica e imediatamente revendidas pelos monges por uma plus-valia considerável.

O jornal grego Eleftherotypia pesquisou as posses do monastério, que é proprietário de numerosos bens na Grécia, como também em dez outros países, entre os quais a Bulgária, Romênia, Moldávia, Chipre e Turquia. Este patrimônio é calculado em centenas de milhões de euros. Trata-se de terras cultiváveis, terrenos de construção, residências, hotéis, empresas de todo tipo e mesmo minas. Nada mau para quem se dedica a uma vida monástica.

Para o jornal de oposição Ta Nea, as revelações de transações entre o Estado e o monastério de Vatopediu estão longe de acabar. “Em apenas um ano, vários terrenos foram doados ao monastério pelo Estado. Os monges decidiram então trocá-los pelas duas construções da vila olímpica, revendidas três meses depois por cerca de 41 milhões de euros, o dobro do preço de compra. Outras propriedades, como terrenos e lagos, teriam custado ao Estado mais de cem milhões de euros, isentos de imposto. Com efeito, a Igreja não paga imposto. Nenhum imposto. No entanto, uma tributação da Igreja, maior proprietária da Grécia, permitiria reequilibrar o orçamento do Estado”.

Misóginos, mas malandros, nossos monges. Não gostam de mulheres. São fedorentas. Mas nada têm contra o vil metal. Dinheiro não tem cheiro. Igrejas em muito se parecem.