¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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sábado, novembro 15, 2008
 
68, UMA FICÇÃO


Sempre entendi Maio de 68 como um fenômeno de mídia. Diferentes rebeliões, com diferentes motivações, explodiram em Pequim, Praga e Paris. Como ocorreram mais ou menos na mesma época, os jornais juntaram as notícias num mesmo caderno e daí surgiu a tal de Revolução de 1968.

Segundo Henrique Carneiro, PhDeus uspiano, “o ano de 1968 foi um fenômeno de massa em vários países, com uma referência comum: a de fazer parte de um movimento internacional”. Ou seja, não disse nada. Para Daniel Cohn-Bendit, um dos líderes da rebelião na França, “o espírito de 68 é o desejo de liberdade. Essa foi a matriz do movimento, o espírito da liberdade”. Ou seja, também não disse. Talvez as inscrições de muros e cartazes da época digam melhor sobre o movimento: “Quanto mais amor eu faço, mais vontade tenho de fazer a revolução. Quanto mais revolução faço, maior vontade eu tenho de fazer amor”. No que diz respeito à França, pelo menos, 68 esteve mais para partouse que para revolução. Como disse alguém: pas de sang, trop de sperme. Nada de sangue, muito esperma.

Não creio em Deus nem em 68. Sempre vi 68 como uma criação das redações de jornais. Em entrevista ao El País de hoje, o pensador, sociólogo, filósofo – y otras cositas más – Edgar Morin, confirma minha convicção. “Expressaram uma aspiração que percorre a história da humanidade desde o anarquismo (liberdade), o socialismo (justiça) e o comunismo (igualdade)”. Ou seja, o ilustre filosofante das margens do Sena, em pleno 2008, ainda associa anarquismo com liberdade, socialismo com justiça e comunismo com igualdade. Vai ver que de tanto contemplar a torre Eiffel, não viu que em Berlim caíra um muro.

Prossegue Morin: “Além de uma explosão adolescente, houve algo especial: as pessoas se falavam na ruas de Paris, coisa que nunca faziam, e as consultas aos psiquiatras se esvaziaram. Logo, a revolução degenerou e as pessoas voltaram aos psiquiatras”. Ora, me parece muito pouco para caracterizar uma revolução. Em momentos de comoção social, é normal que as pessoas se falem nas ruas, que mais não seja para informar-se do que está acontecendo. No 11 de setembro de 2001, os nova-iorquinos também conversaram nas ruas. Na primavera de Praga, os tchecos também conversaram. Como se vai conversar sempre, quando qualquer coisa de insólito estiver acontecendo em algum lugar.

Quanto aos consultórios de psiquiatras vazios, nada de surpreender. O PC francês havia decretado uma greve nos transportes públicos e nada menos surpreendente que os consultórios – não só de psiquiatras mas também de médicos ou dentistas – se esvaziassem.

Quanto mais os anos passam, mais se evidencia que 68 não passou de uma ficção coletiva criada por jornalistas e escritores.