¡Ay de aquel que navega, el cielo oscuro, por mar no usado
y peligrosa vía, adonde norte o puerto no se ofrece!
Don Quijote, cap. XXXIV

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terça-feira, novembro 18, 2008
 
ZUMBI E SPARTACUS


De um leitor, recebo extenso mail, do qual reproduzo o ponto principal:

Penso que a figura de Zumbi homenageado não é na condição de ´libertador´ dos escravos mas na figura de quem liderou e lutou contra o sistema escravista vigente no século XVII e, ao contrário do vosso entendimento, considero legítima a homenagem. A escravidão imposta aos africanos no Brasil não era equivalente às demais formas de escravidão conhecidas até então e aquele sistema violava sim a condição humana das vítimas.

Em O Homem Revoltado, Albert Camus faz uma distinção entre revolta histórica e rebelião. Spartacus não aspira à revolução, ele não quer senão direitos iguais aos do senhor, ele quer ser senhor no lugar do senhor. Nos encontramos face a uma rebelião. Se a rebelião mata homens, a revolução mata homens e princípios.

Spartacus não é um revolucionário, ele não quer mudar os princípios da sociedade romana. Ele se bate para que o escravo tenha direitos iguais aos do senhor, recusa a servidão e quer a igualdade com seu amo. Esta vontade de igualdade o conduzirá ao desejo de tomar o lugar do amo.

A revolução, por sua vez, é a mudança total. A partir da concepção astronômica de revolução – movimento que fecha um ciclo, que passa de um regime a outro após uma translação completa – Camus precisa sua definição. A revolução implica uma mudança do regime de governo. Para que uma mudança econômica seja uma revolução econômica é preciso que ela seja ao mesmo tempo política. Sejam seus meios sangrentos ou pacíficos, é a mudança política, a mudança de governo, que distinguirá a revolução da revolta. Esta dicotomia fundamental é posta em relevo pela frase célebre, citada por Camus: "Não, Sir, não se trata de uma revolta, mas de uma revolução".

Ora, ao instituir o regime de escravidão em seu quilombo, o novel herói da afrodescendentada tupiniquim nada faz senão repetir o papel de Spartacus. Zumbi quer a liberdade para si. Não para os seus, aos quais escraviza. A escolha de Zumbi como combatente contra o sistema escravista então vigente não passa de uma frágil manobra dos ativistas negros que se recusam a aceitar uma verdade histórica: os responsáveis pela abolição da escravidão no Brasil foram líderes brancos. A comemoração da próxima quinta-feira não passa de uma farsa grotesca.

Bem que os apparatchiks do movimento negro podiam ser menos preguiçosos e pesquisar um pouco mais para encontrar um campeão que pelo menos não fosse senhor de escravos.